quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O Valor da Amizade (Peça em Um Ato)



Personagens:

Josi

Perov

Cena – Casa de Perov, três horas da manhã de um dia de semana. Dois ambientes contíguos – sala e quarto – divididos por tapadeira e abertos para a boca de cena. Na sala, um sofá e uma mesinha; no quarto, uma cama e um criado mudo. Luz como vinda da rua, filtrada em ambos os ambientes.

[Perov dorme em sua cama, apenas de cuecas. Ressona ritmada e docemente]

[Súbito, alguém bate à porta] [Contra-regra – batidas à porta num crescendo de séries de três]

[Perov desperta; vence o sono aos poucos e levanta-se tonto]

Perov [para si mesmo, coçando a bunda e dirigindo-se à sala aos tropeços] – Putamerda... quem será?...

[as batidas na porta continuam, insistentes]

Perov – já vai, já vai... [acende a luz de canto da sala]

[Perov olha pelo olho mágico, com esforço. Não consegue ver bem. Mais batidas à porta]

Perov – [quase gritando] Putamerda!

Perov – [abre a porta de supetão] Josi!

[Josi avança para dentro da sala, sem dizer boa noite. Está desgrenhada, sem pintura. Veste um casacão e calça um par de pantufas. Fica claro que saiu de casa direto para a casa de Perov].

Perov – Caralho! Que foi, menina? [fecha a porta]

Josi – [olhando para um lado e, depois, para o outro; continuando de pé] Tu me dás algo pra beber? Um mate, tens?

Perov – Peraí, Josi... você me acorda, entra na minha casa e nem boa-noite?

Josi - Bah, desculpe guri... é que eu tive um sonho ruim... [varre da frente do nariz uma mosca invisível] algo com minhas provas, meu Grêmio, meu namorado, minhas espinhas... sei lá...

Perov – [sentando-se no sofá e cruzando as pernas, boceja] – ahhhh...

Josi – [ainda de pé] - sem sacanagem... me ofereces algo?

Perov – [levantando-se e fechando a cueca] - tá ... tá bem... um uísque serve?

Josi - Serve sim... aquele do outro dia... [atira-se ao sofá enquanto Perov serve uma dose num copo que está na mesinha, junto a um balde de gelo] [contra-regra: atenção para este detalhe].

Perov – Duas pedras? [Josi não responde] ... pronto [estende o copo que Josi agarra e bebe de uma só vez].

Perov – [de pé, diante de Josi, que continua sentada] Putamerda, Josi... que pesadelo, hein? [Perov debruça-se e acaricia os cabelos de Josi].

[Josi vê o membro de Perov endurecer, saindo um tanto pela cueca... dá uma agarradinha... massageia... beija... e solta]

Josi – Olha, Perov, desculpe... Não tô a fim de chupar teu pau agora não... mas tu podes fazer mais uma coisa pra mim?

Perov [soando contrariado, mas assente, recolhendo o membro] – diga, Josi, diga...

Josi – Tu chupas minha boceta? [quase deitada no sofá, Josi abre o casacão... não tem nada por baixo, abre as pernas e mostra a vagina bem exposta, apesar do grande tufo de pelos que a cobre].

Perov [ajoelhando-se diante das pernas abertas de Josi, começa o cunilingus sem dizer palavra].

[Josi vai escorregando pelo sofá, colocando-se numa posição mais confortável. Alisa os cabelos de Perov, enquanto puxa a cabeça do amigo para si]

[Iluminador: a luz da sala vai fechando até que só se vê a silhueta dos personagens, iluminada pela luz da rua, que filtra pela janela]

[Somente sons discretos da chupada e a voz de Josi]

Josi – Ahhh, que bom... hummmm.....

Josi – Mais forte... usa os dedos, guri.... hummm... isso... mais um... enfia... atrás também... assim.... chupa, vai... aí mesmo... com força... cachorro... cachorro... mais forte...

Josi – [instruções, frases e gemidos ad libitum até gozar em crescendo...]

[Josi vai escorrendo do sofá e  Perov fica de pé lentamente, observando a amiga satisfeita]

[Iluminador: pouco a pouco a luz se abre sobre a cena, até voltar à iluminação da lâmpada de canto]

Josi – [entre sorrisos dá a mão a Pero] Como eu sempre digo... nada como uma boa foda.... entre amigos.

Perov – Anda, Josi... [levanta docemente a amiga do sofá].

[O casacão de Josi e as pantufas ficam por ali, na sala, equanto Perov e Josi, de mãos dadas, vão para o quarto e deitam-se na cama. Devagar, se acomodam, um de costas para o outro]

[Iluminador: deixar acesa a luz do canto da sala]

Perov – té manhã, Josi...

Josi – té manhã, Perov... te adoro...

Perov – te adoro mais...

Josi – e a luz da sala, Perov?

Perov – [virando-se para Josi] se quiser, apaga quando sair, e depois bate a porta... té manhã, Josi... [vira de costas para Josi]

[meio minuto de silêncio]

Josi – Perov?....

Perov – hummmm?...

Josi – o que tu achaste dos meus seios?

Perov – [virando-se para Josi] São lindos, Josi... dorme aí, vai...

Josi – que bom que achas... [pausa]... tu devias lavar essa boca antes de dormir...

Pano Rápido.

29dez2010

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Recoil

Quando convenci minha namorada a fazer um ménage não tinha a menor idéia do que acabaria acontecendo. Queria muito testar até onde ia a vontade de Gabriela e sua disposição para vencer o desafio de termos companhia na cama. Ao mesmo tempo, gostava da excitação provocada pela história que fomos construindo ao longo de algumas semanas.

Vânia era uma amiga nossa. De vez em quando saímos juntos – eu e Gaby e Vânia e o marido, o João. Nestas vezes eu observava como as duas conversavam, excluindo a mim e ao João do papo. Tinham essa amizade feminina que fala um dialeto especial e troca comentários e olhares sem que nós, pobres diabos, entendamos o porquê de tanta graça.

Um dia Gaby mencionou-me que Vânia já teria tido experiência com outras mulheres e que havia lhe manifestado o desejo de come-la – o que não lhe despertou qualquer reação contrária. Na verdade, Gaby brincava com a idéia de experimentar uma relação dessas. Sempre muito curiosa e aventureira, tinha a força motriz que a levava a ser fora do comum. E, então, resolvi desafia-la.

Com cuidado fomos tramando a oportunidade. Primeiro decidimos que Gaby sugeriria o ménage à Vânia. Se colasse, conversaríamos a três sobre como, quando e onde nos encontraríamos. De meu lado, ia estimulando Gaby, e também me estimulando, transando enquanto fantasiávamos um enredo em que Vânia estaria conosco. E finalmente Gaby trouxe-me a boa notícia: Vânia concordara e haviam já marcado nosso primeiro encontro para discutirmos a oportunidade.

Confesso que não me senti muito à vontade quando nos sentamos, os três, para conversar. As duas já tinham intimidade suficiente, estrada suficiente, para saltar detalhes; enquanto eu pouco conhecia, diretamente, da faceta que Vânia começava a expor. Constrangido, percebi que a atenção de Vânia era centrada em Gaby e que pouco importava, para ela, que eu fosse Carlos, José ou Manoel. A esta altura senti que o desafio era meu e, não, de Gaby. Mas toquei adiante e sugeri um motel que já conhecia. Vânia retrucou com outra proposta: perversa, sugeriu que fosse na casa dela; João viajaria na próxima semana e a ocasião era esta. Gaby concordou e tive que fazer o mesmo, entendendo que este detalhe acrescentaria mais uma pitada de excitação ao ménage.

Na noite daquele primeiro encontro, quando ficamos a sós, Gaby riu da situação, dizendo-me que eu teria que dar cabo das duas. Mal sabia ela que o desafio não era para o desempenho, mas para a capacidade de seguir com o enredo e desdobrar a trama sem tropeços...

No dia marcado, lá fomos nós para a casa de Vânia. Gaby, atenciosa, levava uma orquídea de presente, enquanto eu, o lado prático, trazia comigo as camisinhas e o K&Y. E Vânia nos recebeu com aquele sorrisão de alegria. Logo estávamos bebericando na sala e, dali a pouco, deitados nus na cama do casal. E foi nessa hora que confirmei que a liderança não era absolutamente minha: Gaby levantou-se e disse que voltaria logo depois; enquanto isso, insistiu que deveríamos ficar mais à vontade, Vânia e eu. E quando Gaby voltou à cena, encontrou-nos deitados juntos, e nos beijávamos enquanto nos masturbávamos. Um beijo sem gosto, de faz-de-conta, e um toque mecânico, sem inspiração, mas suficiente para deixar-me ereto.

Gaby, então, meteu-se entre mim e Vânia e, aos poucos, ficou de quatro, pedindo-me que viesse por trás dela, enquanto começava a namorar – essa é a palavra – Vânia. Obedeci. A cena era muito bonita. Enquanto entrava em Gaby, podia ver como se apossava de Vânia. Os músculos dos ombros e das costas retesados, enquanto ela beijava a amiga e a masturbava. Saí de Gaby, sem gozar, a tempo de ver Vânia virar o jogo.

Nossa amiga é mignon, muito engraçadinha, pequenos seios, carinha bonitinha e pernas malhadas por corridas diárias. Um bom contraste com minha namorada – que é maior, um belo exemplo de mulher gostosa, de seios bonitos, nádegas e pernas carnudas e um rosto marcante. Sendo magra e atlética, Vânia, assim que sentiu-se livre do engate a três, encaixou-se entre as coxas de Gaby e a possuiu com a boca e os dedos.

Parado, apenas observando, vi que Gaby se contorcia de agonia na boca de Vânia. E também constatei que a maestria de Vânia era muito superior à minha. Não envolvia apenas chupar e dedar. Era todo um balé de louva-deus que pausava quando a excitação de Gaby quase atingia o clímax e re-começava, de outra forma, quando a sua ânsia chegava ao pico do desespero. A fome de Vânia não tinha fim, mas Gaby, condoendo-se de mim, depois de gozar mais de uma vez, sugeriu que Vânia me comesse, começando por chupar-me o pau.

Novamente tive a sensação mecânica de antes. Vânia chupou-me diligentemente, mas sem paixão. Uma chupada técnica, eu diria. Mesmo quando fomos para a frente do espelho do armário porque eu desejava que ela se visse com meu pau na sua boca, Vânia portou-se como uma peça de equipamento. E assim foi, também, quando me cavalgou e sua boceta engoliu meu pau de uma só vez. Gaby, então, aproximou-se dela e ofereceu-lhe a boceta. Como resultado, Vânia começou a comer-me com mais tesão, ao mesmo tempo em que se esbaldava com minha namorada.

Gozamos os três, não sei em que ordem. Mas me recordo bem que, pela primeira vez, minha sensação de gozo não passou dos meus quadris. Foi realmente muito estranho não sentir prazer por todo o corpo, como sempre me acontecia. E fiquei feliz quando as minhas parceiras decretaram o final da ginkana.

Um a um fomos ao banheiro e depois ficamos ali um pouco, conversando. As duas em franca comunicação e eu tenso, querendo ir embora. Até que começaram a vestir-se e eu fiz o mesmo, rapidamente. Alegando um compromisso, apressei Gaby e seguimos em direção à sala. Ao chegarmos à porta, Vânia deu-me um abraço e, ao despedir-se de Gaby, deu-lhe um intenso beijo na boca, retribuído em igual intensidade por minha namorada, cuja boca vermelha e carnuda é o ponto central de seu rosto e minha atração principal.

Passou-se talvez uma semana antes de falarmos sobre o ménage. Quando fiz um comentário insípido, Gaby retrucou que Vânia a havia telefonado convidando-a para uma noite a duas. Imediatamente a imagem do beijo na boca, trocado à porta do apartamento de Vânia, me veio à memória. E aí senti o quanto meu coração estava partido.

Não pude dizer não à Gaby. Faz parte de nossa relação evitarmos cenas de ciúmes e não fazer valer qualquer idéia de posse. Engolindo a emoção, disse a ela que deveria ir. E dei-me conta de que havia me tornado um homem triste.

Para G/, que me pediu e eu fiz.

14dez10

domingo, 12 de dezembro de 2010

Gueixa

meu dengo me diz
- sou tudo que quiseres...
meu dengo me entristece
pois que a quero como ela é
mais que tudo como ela é
descoberta casual
ou não [por estar escrito em nossa história]
meu dengo é a realidade sutil
que aparece e se esvanece
que não necessita de sujeito e predicado
nem de forma ou conteúdo
que não é rosto ou um par de pernas
nem tom de pele ou menina dos olhos
é a gueixa suprema
de nome escrito a nankin
cujo toque não precisa do contato da matéria
nem do sopro do espírito
para que eu a sinta apertada a mim e
no momento seguinte a saiba
parte do cosmos...


12dez10


Para Marcela, Gueixa Wasabi, amiga infinita.