segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Amnésia

Selma Eliza/tua amnésia/te mantém viva/em todas as minhas vidas/Just/De/como seja/estudando ballet/enviando-me flores/localizando meus posts e respondendo-me em outro século/com cartazes multi/teu nariz tua força/e eu ainda sentindo o perfume/dos teus roseirais/da Bom Jardim soterrada/e de tudo que minha memória guarda/mesmo do caco de vidro no fundo do mar machucando-me o pé/Selma Eliza/presente em todos os presentes/raspando em minha trave e fazendo-me gols completos/deixando-me encantado e mordido/sempre lembrando/sempre lembrando/sempre teu/raivosamente teu.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Duas para V/, uma gueixa



talvez/dizes e pensas/que assim me tens pelos arreios/e me tens/mas só um pouco/enquanto me anima/teu ranger de dentes/imaginado/na cama em que/te ato.

ela beijou-me com franqueza/água feita terra/firme/não houve riso/nem abrir de novas portas/apenas o centro do universo plantado/no meu peito/franco.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Bom-Dia Brasil = 05 de janeiro de 2011




Voltando da caminhada pela orla, fiz café, abri uma maçã e sentei-me diante da TV para checar o “Bom Dia, Brasil”.

Assisti a três matérias em seqüência, no espaço de aproximadamente vinte minutos:

1.         reunião dos caciques do PMDB para discutir a relação com o PT, com pequenas entrevistas de Garibaldi Alves, Renan Calheiros, Michel Temer e Valdir Raupp, e com imagens subseqüentes de Roseana Sarney e outros convivas de menor evidência;

2.         entrevista com um especialista do IPEA sobre os problemas da Previdência, tendo em vista o “envelhecimento” da população do País e outras variáveis problemáticas detectadas pelo último censo; e

3.         cenas de mais um desabamento de barreira na região serrana do Rio de Janeiro (Petrópolis), devido às chuvas recentes, com a conta de três mortos – uma adolescente e duas crianças.

Enlaçando as duas primeiras matérias, assisti a comentários de Alexandre Garcia e Zileide Silva sobre a primeira crise de governo, advinda das disputas partidárias para preencher o segundo escalão do governo federal. Tais comentários referiam o aumento do salário mínimo como moeda de troca – o PMDB fincando o pé em não menos que R$580,00 e o governo (Guido Mantega) rebatendo que um valor superior a R$540,00 seria vetado.

A terceira matéria, com cenas do local, retratava a dor dos familiares que perderam entes queridos. Nenhum comentário turvou as imagens cruas do drama que se repete. Desliguei a TV antes que o bloco chegasse ao fim e comecei a refletir sobre minhas reações.

Que mundo é esse, afinal, onde convivem temas tão escandalosamente afins, embora dessemelhantes? A princípio, acho que vi um filme de conteúdos desconexos, repletos de imagens fantasmagóricas e referências turvas. Aos poucos vou encontrando a evidência de que as três matérias têm tudo a ver entre elas e de que, realmente, vivemos num circo de horrores, em que os mais necessitados arcam com o ônus da indiferença e do egoísmo da “elite dirigente”, sem que percebamos a relação de causa e efeito que subjaze a tudo isso.

As cenas tão familiares de desabamentos ocasionadas pelas chuvas se perpetuam ano a ano. Com exceção, talvez, de Roberto da Silveira – prefeito de Niterói – nenhum dos governantes (governadores de estado ou prefeitos municipais) que vêm a público nessas oportunidades reconheceram responsabilidade pelos eventos. E nenhum deles, inclusive o mencionado prefeito, tomou medidas efetivas para evitar novos desabamentos durante a estação de chuvas de 2011. Dedicam-se prioritariamente, todos eles, às tricas e futricas associadas à sua sobrevivência política ou à expansão de seus territórios eleitorais e fortunas pessoais.

Vindo de uma agradável experiência na orla, com minha mente e meu corpo conectados à Natureza, sou confrontado com a violência do noticiário. Não a violência de um tiroteio, não a violência de um seqüestro, não a violência de uma guerra; mas com a violência que está em quase toda a nossa vida política, explicitada na cara cínica de nossos dirigentes – violência surda, imperceptível, cruel e extremamente perversa.