domingo, 9 de setembro de 2012

Da Liberdade a Quatro Mãos

Este conto é o resultado de um tour de force, como diz o título, a quatro mãos, entre Ana Veet Maya e Pero Vaas no mês de agosto de 2012.
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-- Olha, mamãe não é lá que é a casa da Tia Nelma?
Estavam passando pela Alameda Itú e a menina apontava para o último andar do velho Edifício Edelweiss.
-- Vamos lá, vamos?
-- Não, Lili, não vamos não. Outro dia nós vamos. Outro dia.
-- Outro dia a gente vai nada, mamãe. Faz um tempão que a gente não vê a Tia Nelma! Vamos, vamos?
A menina insistia, mas a mãe a puxava pela mão, decidida, na direção da Ministro. Não era agora que iria voltar a falar com a irmã. Havia dois meses que soubera que Nelma andava posando nua [“Nua!”] para aqueles safados da FAAP. Nem quisera ouvir explicações.
Nelma sempre fora o que se chama de “vergonha da família”. Não que os Palhares fossem grande coisa. Mas nunca tinham sido expostos às molecagens, propositais ou não, que Nelma inventava. Casara com um negro [“Mulato, mas negro!”]. Mas antes trouxera para casa um imigrante que não sabia palavra de Português e que aboletou-se por lá durante três meses de seguida avacalhação.
Na escola Nelma sempre fora muito bem, embora vivesse pendurada em suspensões e advertências – seja por fumar no banheiro, seja por divertir as amigas com revistas proibidas, seja por ser pega escrevendo frases grosseiras sobre a Irmã Maria Auxiliadora nas paredes do claustro.
Na verdade Nelma era iconoclasta por natureza. Sua liberdade de pensar e agir vinha em primeiro lugar; assim como o direito de embarafustar-se por qualquer aventura a risco próprio. Não foi assim que se expusera num filme pornô, desfrutando de uma dupla penetração sob o codinome Cris De Bauche?
A participação lhe valeu dias e dias andando sem calcinha, porque até mesmo a mais leve e fina de algodão machucava muito... E foram lavagens e mais lavagens com ervas de São João, Santa Maria, erva de um monte de santo, que faziam Nelma chorar e rir muito ao mesmo tempo! Afinal, pedir ajuda e proteção desses santinhos pra cuidar de suas partes íntimas, ah, isso era mesmo demais! Isso sim era pecado! E gargalhava em alto e bom tom.
Sem contar que o que gastou com pomadas para suavizar, para cicatrizar, para lubrificar, para aromatizar e etc, foi muito mais caro que o cachê que ganhou por sua participação em filme tão, como diria, “underground” (a palavra fashion que os metidos batizam tudo o que não conhecem muito bem).
Parecia mesmo que Nelma tinha um prazer especial em ligar pra sua irmã Maria e cutucar feridas, escarafunchar lembranças e fazer as perguntas mais puras, para em seguida, confessar atitudes nem tanto...
- Mana, preciso te perguntar: como era mesmo o nome daquela pomada que você usava quando transava contra-vontade nas noites que teu marido chegava meio trêbado e assanhado queria comer teu rabo?
Silêncio do outro lado da linha.
- Mana? Responde logo que vou comprar correndo pra ver se passa essa dor e essa ardência na perseguida e no rabo também.
- Nelma! Nem sei do que você está falando! E nem sabia que você tinha voltado a namorar. Com quem? Ele é bom moço? É católico? É brasileiro? É normal?
- Pode deixar Maria! Vou fazer lavagem com vinagre de maçã que era o que titia usava.
E desligou o telefone irritada.
E Nelma ia pensando com seus botões, por que Maria tinha essa mania de querer lhe enfiar goela abaixo um religioso qualquer.
- Se eu quisesse isso, teria ficado com o Padre Santos que prometeu até largar a batina se me deitasse com ele. Oras pois!
Para Nelma, pensamento religioso era uma questão de opção. Aliás, Nelma tinha-se atracado com todas as divindades e cultos à sua volta. Acordava e rezava para São Francisco, agradecia ao Deus Ra e batia palmas para Oxum. Circulava pela casa, cumprimentando as deusas da cozinha, da privada e do banheiro, particularmente a Deusa da Água. Lembrava-se de uma cantiga, rumorejava um terço e até tinha como certa a existência de uma entidade em cada garrafa de água sanitária Q-Boa.
Mais adiante, tratava de nutrir a mente em outros cultos, como dinâmicas de grupo, Terapia de Rorschach, Temática Zen, e outras cerimônias mais ou menos catárticas. E foi numa dessas que conheceu Juan [“pronúnciase ‘rrruán’”, dizia ele], um imigrante do Panamá, de onde teria vindo para dar aulas pras coroas da FAAP e tentar a vida de artista plástico em São Paulo. Juan era a típica mistura de raças dos habitantes da Zona do Canal – negro, de olhos verdes, feições asiáticas, cabelos lisos [puxados num rabo-de-cavalo e, depois, num coque] e bundudo. Quando o viu, Nelma o mediu e pensou “sei bem o que fazer com esse pincel”.
Conhecida como pegadora, Nelma ficara famosa na zona boêmia de São Paulo por certa frase, dita num momento crítico. Estava Nelma numa roda de amigas, discutindo as gostosuras de A, B e C, quando Ana, a amiga careta, havia concluído que “homem casado é, para mim, mulher”. Ao que Nelma, de imediato, espalmando a mão no tampo da mesa, levantara-se um tanto e gritara “passei a gostar de mulher!”. Não era à toa que Tia Tereza – conhecida como a “Sábia do Morumbi” – sempre dizia “Nelma é como botão de casa grande – sempre disposta a abrir a saia”.
Por isso mesmo, não é de espantar que, medindo e conhecendo Juan, Nelma o tivesse levado, incontinenti, ao mafuá de um conhecido, onde o negro pôde exibir por horas o sacolejo especial do taludo tegumento e da enorme bunda ao som de seleções de música caribenha. Para encurtar, saíram dali e, no apartamentinho da Alameda Jaú, Nelma recitou o Corão de trás pra frente, equilibrando-se na cabeça do majestático pau do panamenho.
E assim, entre uma bimbada e outra, Nelma foi aprendendo o doce sotaque com que Juan pedia-lhe água, comida, banho e até cosquinhas no lombo. E corria tudo muito bem, não fosse o dia em que Nelma, ao entrar em casa, surpreendeu o negro empirolhando valentemente a prima Kelly – que, de quatro, gritava “arriba, arriba, arriba”.
- Mamãe? Mamãe? Afinal, podemos ou não ir à casa de tia Nelma?
Tão absorta ficara Maria nos pensamentos e lembranças de sua irmã, que se esqueceu completamente da filha, agora mais que ansiosa, que lhe puxava a mão freneticamente.
Respirou fundo.
Fazia um ano que não conversava direito com a irmã. Desde o episódio que levara Kelly ao hospital, procurou se afastar e não mais atendeu Nelma até que aos poucos as ligações pararam.
Engraçado como mesmo tão diferentes e combativas, sem querer Maria tornara-se o ombro amigo e confidente de Nelma. Paradoxalmente amigo.
Afinal, pensava Maria, por mais que discordasse da irmã, ela era seu sangue.
Não poderia se negar ao menos a ouvi-la.
E também tinha uma coisa que não gostava de confessar nem a si mesma... No fundo, no fundo, adorava ouvir suas histórias vibrantes.
Maria se achava tão comum, tão café com leite, tão fraquinha e quebradiça...
Nelma não! Nelma era corajosa, valente, audaciosa!
Nunca confessaria essa secreta admiração e esse carinho profundo pela irmã pecadora. Seria inveja?
Sorriu.
Como era afiada aquela língua! Ela sabia mesmo mexer fundo nas feridas...
Só mesmo Maria pra entender quanto sofreu pra agüentar aquele marido traste comedor de cu, até que ele deu o último suspiro, levado pela cirrose, graças a Baco, que o chamou pra pertinho de si.
- Bem-feito desgraçado. Vai penar agora e arder no fogo do Inferno junto com suas amigas putas.
Não derramou uma lágrima.
Lívida, gélida, cerrou o caixão do pobre-coitado, selando com ele também seus sonhos de amor.
Migrou seus pensamentos do enterro para o hospital, onde fora encontrar Kelly logo após a surra que levara de Nelma.
Foi muito difícil segurar a vontade de rir, quando a encontrou naquela tosca enfermaria, com aquela cara toda desgrenhada e suja, lágrimas rolando pelo rosto.
A moça falava com dificuldade, dois dentes da frente quebrados. Tinha um olho roxo e mordidas profundas em um dos braços. Torcera o tornozelo quando tentara fugir da raiva ensandecida de Nelma.
Agora desdentada e capenga, perguntava desabafando com Maria, se realmente valera a pena tanta dor, só para experimentar as qualidades tão alardeadas por Nelma, do tal Juan das candongas.
Só sabemos que por isso ou por aquilo, desde tal episódio, nunca mais se ouviu falar do tal Don Juan... Talvez tenha voltado pelo mesmo caminho tortuoso e lúgubre por onde chegou, na esperança de proteger seus colhões que Nelma jurou de pé junto arrancar com os dentes, se o encontrasse de novo.
- Mãaaaaaaaaeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!
- Vamos querida. Vamos ver tia Nelma. Mas só vamos entrar e sair.
Anunciou seu nome ao porteiro e aguardou.
A porta abriu com aquele “clack” e, depois de outra porta (e outro “clack”) puderam caminhar pelo extenso corredor interno que levava à coluna dos apartamentos de dois cômodos. Gastaram alguns minutos esperando o velho elevador de porta pantográfica e mais alguns minutos até o 16º. andar. Caminharam pelo longo corredor de muitas portas e finalmente bateram à da casa de Nelma.
-- Já vai, já vai...
Ouviram passos apressados de pés descalços, mais “clack-clack clack” das fechaduras de segurança e, porta aberta, viram Nelma, seminua, enrolada num lençol, dando-lhes as boas-vindas.
-- Minha nossa senhora, Lili, como você está grande! Entrem, entrem...
Ao entrar, sem soltar a mão de Lili, Maria logo viu, no canto da sala, a figura esquálida de um jovem de idade e fortuna indefinidas.
-- Esse é o Mathias, o pintor. E essa, Mathias, é minha irmã Maria e a filha dela, minha sobrinha Lili...
Mathias parecia pregado no chão, mais por inanição que por atitude. Era difícil dizer se era mais mofino pela magreza, pela barba rala, parecendo um bode fedorento, ou pelas roupas descoradas e novamente pintadas, já agora de manchas multicoloridas.
Maria e Lili notaram a tela no meio do aposento.
-- Olha, mamãe, é a Tia Nelma nua, peladinha!...
Maria não conseguia tapar os olhos da filha e nem puxá-la, embora tivesse dado um repelão.
-- Ora, Lili, você nos acha parecidas?
Nelma, ao falar, abriu a o lençol e desfilou nua pela sala, enquanto apontava para a tela e perguntava “hein, hein?” à menina.
-- Escuta, Nelma, acho que a gente vai embora...
E Maria tentava puxar Lili para a porta, enquanto Nelma puxava Lili, pela outra mão, na direção oposta.
-- Naaaada disso, naaaada disso. Vocês vieram até aqui e agora não vão fazer esse desaforo.
Quem foi embora foi Mathias que, desafiando tudo que se pensasse dele, deu um pulo atlético e sumiu pela porta aberta.
Estava tudo mais tranquilo, agora que o bode fedorento se fora. Maria e Lili acomodaram-se no único sofá; enquanto Nelma, ainda nua, sentava-se no braço estofado.
-- Então, Maria, que te traz aqui? Faz tempo, hein?... Teu marido morreu, eu me casei, e descasei...
-- É, a gente passava aí embaixo e a Lili quis te ver.
-- Que ótimo Lilizinha... botou peitinho, hein? Doze anos?
-- Ah, tia, incomoda... Só onze... ainda.
-- Você não sabe, ainda, o que realmente incomoda...
Nelma balançou a cabeça em direção a Maria e Maria percebeu uma alusão clara à temporada sem calcinha que Nelma tivera que enfrentar depois da primeira DP. E houve várias, muitas outras... Mas aí a técnica adquirida na experiência já trazia seus benefícios.
-- Vou trazer algo pra vocês. O que você quer, Maria? E você, Lili? Eu vou trazer um absinto para mim... me sinto muito parisienne, aujourd’hui.
-- Pra mim um copo d’água já basta. Porque a gente já vai embora daqui a pouquinho.
-- Ah, mamãe, que chato... a gente nunca vem aqui, nunca vê Tia Nelma, a minha tia favorita....
-- Certo, Lili! Assim que eu gosto. Por causa dessa vou te trazer uma coquinha, com limão e pedrinha de gelo...
-- Com um gelinho basta, tia.... úi... pôxa, mamãe, você me beliscou...
Maria repetira com a filha o gesto que tantas vezes usara para advertir Nelma, sempre sem sucesso. E Nelma levantou-se e saiu, ainda nua, em direção à cozinha, para a alegria silenciosa de Lili.
Nelma tinha um corpo cheinho; uns quilinhos aqui, outros ali. Mas parecia que era isso exatamente que os pintores gostavam: curvas, generosidades, linhas, perspectivas. Não só os pintores, bem sabia Nelma, mas os homens em geral; pelo menos os homens de verdade. Os da FAAP chamavam-na de renascentista e, desde os tempos do colégio interno, os seios redondos e as nádegas de perfeitas polpas exerciam um fascínio especial entre meninos e meninas.
Nelma voltou com a coquinha de Lili e, antes de sentar-se de novo no braço do sofá, ouviu batidas leves, em código, na porta. Ergueu-se de novo, foi à porta e abriu-a escancarada para que Maria e Lili conhecessem o homem mais belo que já tinham visto.
-- André!
-- Nelma!
Trocaram um abraço apertado e André entrou.
Maria e Lili, surpresas e excitadas, ergueram-se. Lili mal conseguiu segurar o copo enquanto Maria deixou escorregar a bolsa.
-- André, esta é Maria, de quem te falei tanto, e esta é minha sobrinha Lili.
André alcançou com a mão afetuosa o rosto de Lili e aventurou dois beijos no rosto de Maria. E, quando Maria já começava um longo suspiro, Nelma virou-se para ela, com o rosto fora do raio de visão de André, e disse, sem voz nas palavras:
-- É gay...
- ... canso de provocá-lo, seduzi-lo de todas as formas, mas não tem jeito não. Ele nasceu assim!
- Ah, para, mana. Tá boa? O que sua irmã e sua sobrinha vão pensar de mim? To indo pra cozinha fazer nosso almocinho. Você precisa estar bem alimentada pra representar nossa causa!
Nelma aproveitou a deixa pra contar a Maria que, entre tapas e beijos, no último ano renovara sua carteirinha da OAB e voltara a advogar. Mas só em causas nobres, claro.
Daria uma palestra no período da tarde lá na OAB, pra sensibilizar seus colegas e trazê-los para a causa do direito de adoção de crianças por pais gays.
Maria nem ficou chocada.
Sentiu até um certo alívio...
Graças a Deus Nelma não estava lutando pela legalização do uso das ervas que chamava de “medicinais”...
E também sentiu orgulho por ver que a irmã abraçara de novo o trabalho sério que relegara a último plano, desde que começara a ser modelo de nus.
Percebeu que o tempo caíra bem para Nelma que se mantinha atraente ainda, mesmo com seus cinqüenta anos.
- Gostou do meu novo corte de cabelo, Lili?
- Massa tia! Radical! E essa cor vermelha combina muito com você.
Nelma correu bunda balangandando até seu quarto e trouxe uma bonequinha de porcelana [na verdade um dildo disfarçado] e entregou a Lili com um sorriso contagiante.
- Faz tempo que estava aqui em casa. Trouxe pra você da minha última viagem ao Japão. Mas queria entregá-la pessoalmente...
Maria enxugou uma lágrima sorrateira que escorreu de seu olhinho verde.
- Vamos agora Lili! Titia precisa trabalhar! Gostei de te rever, mana!
- Bom te ver, Maria! O luto lhe caiu muito bem! E gargalhou indolente, estalando um beijo nas bochechas coradas de vergonha de Maria.
- Xau tia! Vai visitar a gente!
E enquanto se despediam, viram que a figura esquálida do pintor fedorento aparecia novamente na porta, carregando várias latas de látex colorido e outras tantas telas.
Maria e Lili foram embora curiosas.
Assim que fechou a porta, Nelma postou-se a chorar um choro silencioso e sentido.
Adorava a irmã e a sobrinha e a visita inesperada lhe causara alegria e tristeza ao mesmo tempo.
Acostumada desde sempre a ser julgada por sua franqueza e seu jeito único de ser, não queria iludir-se e alegrar-se banalmente com essa aproximação.
Abandonou Mathias na sala, foi pro quarto, vestiu seu traje sóbrio de advogada, sua meia sóbria de seda e seu salto sóbrio e alto.
Saiu rebolando na frente de André que lhe disse:
- Ai, cacete, Nelma... você, quando fica assim, nem te reconheço, mas sigo gostando de ti do mesmo jeito...
André enlaçou Nelma pela cintura, deu-lhe um beijo, e nem ligou quando Mathias esboçou uma solicitação de reembolso.
- Vá se catar, Mathias. Dá comida pro gato e depois se pirulita. Não quero te ver aqui quando eu voltar com a Nelma.
Saíram batendo a porta e gargalhando enquanto imaginavam o pintor sozinho, tendo que dar conta do gato Pagão, príncipe dos arranhões súbitos.
Tia Tereza, do alto de seus tamancos fúlgidos, diria “se merecem”. Vá lá que não é uma frase que promova uma epifania ecumênica mas, quem conhece a Sábia do Morumbi, entende que, nela, o contexto tem tanta importância quanto o dizer mesmo e que a palavra “merecer” vinha cercada por uma luz, por assim dizer, Kardecista.
Entre os admiradores de Tia Tereza, entretanto, poucos conhecem o lavor de sua caminhada insólita: a setuagenária parenta tinha sido a rainha da esbórnia durante grande parte de sua vida. Provara de tudo, na companhia de todos e de qualquer um. Sem falsa modéstia, tinha sido a introdutora do suíngue bíblico na capital paulistana e, assim como a sobrinha Nelma, havia posado nua e dançado a hula em filmes que faziam a festa da marujada americana.
A vida segue seus caminhos e, até quando se tem o destino aparentemente marcado e carimbado, surgem vetores – forças internas ou externas – que reordenam vontades, atitudes e hábitos. Então, ocorre aquela partida de vôlei entre o fazer e o dizer; a bola sobe e é cortada. Pow! E os tais caminhos mudam [NOTA: só não muda a presença de Deus, diria Tertuliano, revelando-se da maneira em que “todas as coisas da natureza são esboços proféticos de operações divinas: Deus não somente falando as parábolas, mas fazendo-as”]. Fazer o dizer, ou dizer o fazer, eis a questão (na verdade, o fazer do dizer e o dizer do fazer...).
Foi assim que, subitamente, farta e repleta, Tia Tereza mudou o curso de sua destemida nau. Numa noite, Tiazinha, na manhã seguinte, Tia Zulmira. Aos incréus disse, com a elegância de um Jânio Quadros, que havia pendurado as chuteiras. E passou a esconder as famosas coxas sob saias dignas das Testemunhas de Jeová. Nelma era ainda adolescente, mas percebeu que ali estava seu ídolo, seu espelho – não na Tia Tereza pós, mas na Tia Tereza pré – e prometeu-se que haveria de ser livre e, liberta, “fazer o dizer”.
Imbuída desse espírito, lá se foi Nelma, na companhia do belo André, fazer um discurso em pról causa de um transexual que desejava adotar um taludo guri de 17 anos -- bastardo de uma nobre família de lavradores nordestinos [NOTA: ver a nobreza do trabalho em “Marx, hoje um monge nos Pirineus; amanhã um profético barbitúrico”] -- junto com uma lésbica parida no seio de aristocrática família paulistana [NOTA: aristocracia e São Paulo misturaram-se indelevelmente durante a presidência de Washington Luís, soberano ínclito que, representando o conservadorismo pós-cafeeiro, foi destronado pela modernidade caudilhesca de Vargas, vulto que inaugurou a pior fase da arquitetura pública nacional. Ver, também, “Um Príncipe Carioca na Paulicéia ou Como a Vaidade Toma um Tranco da Realidade”, ou ainda “Lula Dá Um Pau Bem Grande no Rabo de FHC” -- N.R. – Notas grandes não fazem milagres].

André apalpava-lhe uma das polpas quando desceram do táxi e se dirigiam ao no. 385 da Praça da Sé enquanto Maria, do outro lado da cidade, batia uma sôfrega siririca no banheiro de seu apartamento, chegava ao clímax e, logo depois, sofria da amnésia conhecida como masturbatio ictus [NOTA: ver “La mémoire est-elle soluble dans l'amour?” -- Si le sexe est généralement l’occasion de moments inoubliables, il peut aussi être à l’origine d’une amnésie passagère. Ce phénomène appelé ictus amnésique peut apparaître pendant ou just après une relation sexuelle. Où suis-je? Pourquoi suis-je nu?… Ces crises peuvent durer de une à huit heures. Un véritable trou noir.”]

Nelma e André voltaram exaustos, mas rindo muito. Tentar convencer uma platéia de estudantes e advogados, mesmo liberal, que aquele mancebo torto ia realmente ser perfilhado pelo casal de travesti e lésbica era mesmo muita fé em Deus. Tudo bem, se Nelma houvesse conseguido alguma vitória, esse seria um trunfo invejável que marcaria sua rentrée no seleto mundo dos advogados paulistanos, onde cruzaria com egressos do Colégio São Luiz e da São Francisco, provavelmente alguns aos quais comera em algum momento de sua fortunada vida.
Valera, de toda maneira, o esgrimir com o painel de juízes e promotores – entre eles um velhaco vetusto que piamente acreditava que Nelma o achava o guardião da moralidade. Para André, que apenas a acompanhava como se fosse um colega de banca, foi bastante divertido ver como Nelma circunvolutava argumentos entre a assistência, fazendo tremer a apetitosa bunda sob a saia preta.
Pena que, ao chegar em casa, depararam com o chato do Mathias, que seguia convencido de que aquele seria um dia de festa na xoxota de Nelma.
- Fora, fora, maluco safado duma figa.... fora!!!
E Nelma batia na cabeça de Mathias com qualquer coisa que conseguisse empunhar.
- Ái, ái, ái..... já vouuuuu...
E Mathias escapou-se lépido, como antes fizera, pela porta entreaberta, sendo despedido por um vigoroso pé na bunda que lhe aplicou André.
Nelma e André caíram rindo no sofá e ali mesmo, de roupa ainda, praticaram um 69 que valia tanto quanto uma garrafa comemorativa de Grande Damme.
Gozados e limpos, não tinham muito mais o que dizer um ao outro. André, para Nelma, era só belo; e, para André, Nelma era só mais uma maluca em sua vida, sempre disposta a mamar-lhe o pau. E, assim, mandou-se.
Nelma recolheu a desordem, passeou com um cigarro pela sala, observou a tela, virou-a de lado, desvirou-a, chorou mais um pouco, tirou as meias de seda, fez xixi, viu se havia algo para comer e foi direto para o computador.
Fazia tempo que Nelma se exauria em comunidades sem sentido, usando nicks atraentes e debochados. Experimentara o sexo virtual em muitas oportunidades, expondo os peitos, a xoxota e o cu em troca de algum voyeurismo barato. Masturbara-se muito, embora tivesse à sua disposição quantos vizinhos quisesse. Tivera a sabedoria, entretanto, de nunca aceitar convites para encontros, principalmente depois que ouviu um relato de coisas horríveis que aconteceram à prima Kelly (sempre ela). Cansou-se de esperar pela aventura da noite e foi para a cama seguir lendo o diário do avô Péricles.
Péricles havia sido um grande fodedor – não tão extraordinário como os Grande Fodedores dos 120 Dias de Sodoma [ver: Sade] – mas, ainda assim, um grande visitador de uma farandole de orifícios. No seu insolente ministério, penetrara, sodomizara, sorvera, lambera, chupara e de novo penetrara com frequência notável. E nunca tivera uma venérea... Estava tudo lá, registrado no diário – o grave senhor, que usaria polainas, pince-nez e bengalas se ainda as tivesse, o mesmo senhor que não permitia decotes, vestidos justos e saias acima das canelas, o respeitável senhor que dera ouro para São Paulo [ver: Revolução Constitucionalista de 1932] e fazia questão de usar o anelzinho barato que era o token do donativo, este senhor doutor Péricles da Silva Palhares [ver: Nelson Rodrigues] era um senhor doutor estróina, que vivia atrás das criadas, fornicava com as cunhadas e olhava com luxúria para o peito das meninas-moças da família, como hoje apalparia com os olhos os peitos da pequena Lili.
Nelma vibrara quando achara o diário do avô. Sorvia cada parágrafo, comia com farinha cada palavra que gritava aos seus olhos.
Era muito bom encontrar suas raízes... Sempre caminhara entre os contrastes de uma mente que pensava beirar a loucura, tão diferente sempre fora de todos.
Mas chegar ao final daquele opulento diário de um vovô fenomenal, pra descobrir que depois de tantas orgias históricas e invejáveis, depois de tantas comilanças buco-vaginais, do que ele gostava mesmo era pau no cu?
Que é isso minha gente?
Vovô? Bi? Até ele? E desde antanho?
- Hahahahahaahahahahahahahahah
Nelma deu uma estrondosa gargalhada que assustaria a bruxa má de Branca de Neve.
Aliás, Nelma sempre se identificara com as bruxas más.
Voltou pro computador.
A solidão que gritava no seu peito somada a insônia constante e sua multitasking mente deixavam-na tão elétrica, sôfrega? Trôpega ficou on line.
E lá estava ele on line também!
Justo ela, tão experiente, descrente, já a tempo de perder os dentes... Madura Nelma... Como que aquela figura caótica robótica cibernética internética e debochada conseguia mexer tanto com sua mente, a ponto de deixá-la molhada?
- Filho da puta. Será homem de verdade esse corno teclador?
E de antemão arrependida, iniciou o chat.
[Trôpega] Boa noite, seu fake.
[corno teclador] boa noite bruxa má.
[Trôpega] Descobri hoje que todos os fodedores são bi.
[corno teclador] !!!
[Trôpega] É sim! Meu avô deixou um diário de safadezas. Umputo! Termina levando na bunda já idoso.
[corno teclador] idosos tomam na bunda regularmente, fia... vá preparando o seu bumbum.
[Trôpega] Já tomei no rabo muito, meu. Não tenho problema. Mas você, “cara”... hummm...
[corno teclador] ... hum... pode ser... depois que a minha senhora me deixou... hummm... deixa ver... não. não tomei não....
[Trôpega] Putamerda, o meu avô tomava sim. Agora, imaginando, dá vontade de rir do velho – um moralista que vivia ralhando com a gente.
[corno teclador] moralistas tomam na bunda direto... mas fiquei excitado foi em pensando em você... dando.
[Trôpega] Você já viu os meus peitos, fake. E eu não vi nada. Já chega!
[corno trepador] quem queria ver você dando, fia?... quero é te comer, primeiro com a boca...
[Trôpega] Sempre desconfiei que você era mulher. Agora tenho certeza!
[corno trepador] hahahah... se minha ex-mulher te ouvisse... melhor, se ela te VISSE...
[Trôpega] O que tem me ver? Não gostou dos meus peitos?
[corno trepador] seu colo é bonito, seios médio-pequenos ) (38-40?), achei os seios bonitos.
[Trôpega] Vc é MULHER!
[corno trepador] hahahaha... um fake mulher que quer te comer... isso não te provoca?
[Trôpega] Tá certo. Vamos nos ver. Mas em público. No encontro da nossa turma. Primeira vez que vou ver e ser vista. Se não topa é porque é fake mesmo.
[corno trepador] até topo! devo ir de mulher?
[Trôpega] Vai que eu te descubro lá. Bye.
[corno trepador] mas já? e a seção de masturbação? não vai ter?
[Trôpega] Só vou mostrar minha boceta no dia em que você me mostrar seu pau.
[corno trepador] tah certo. bye.
Aquela conversa tinha deixado Nelma pensativa e frustrada. Já não era possível teclar tão fácil com o tal corno. Estava ficando pesado e aos trancos. E sempre a mesma ladainha. “Vou limar esse sujeito”, pensou Nelma. Foi tomar banho. E, no banho, não resistiu. Pensou e impersonou várias personagens. masturbou-se sem ninguém em específico.
Dia seguinte foi visitar Maria e comentar o diário do avô.
-- Minha nossa senhora! Vovô Palhares? Eu sabia que ele era da pá virada. Mas bi?
-- Haha, Maria, isso é mais comum que possa parecer. Eu sei que você deu a bunda à força. Mas tem gente que sente prazer, e muito!
-- Você, por exemplo... haha.
-- É, eu, mas muito mais gente. Muito mais gente faz amor pelo cu.
-- Tá certo! Mas que assunto! Você sempre metendo esses assuntos no meio das nossas conversas...
-- É... metendo...
-- E aquele André?
-- Que tem o André?
-- É gay mesmo?
-- Hummm gostou dele... toda mulher gosta. Além de ser lindo, tem uma vara linda.
-- Puxa, Nelma, quem perguntou da vara dele?
-- Você e seu interesse.
-- Mas ele é gay mesmo? Ou só bi, como vovô?
-- Bi como vovô e eu, né? Esqueceu do meu namoro com a Kelly?
-- Você sempre me provocando... Namoro que acabou em pancadaria! Foi ciúme do teu Juan ou da nossa prima, hein?
-- Ainda não sei. Nem me importo. Já era. Estou muito velha pra ficar dando voltas nisso.
-- Hummm .... quer um café?
-- Não, obrigada. mas o que você quer com o André?
-- Nada, nada. Só saber se ele gay... um homem tão bonito...
-- Quer que eu coloque vocês dois juntos? Aí você vai saber. Quando eu conheci o André eu tava vendada e atada numa cama, nem sabia se era bonito ou não. Você já tem essa vantagem. Agora... não vou te dizer se ele me comeu ou se eu enfiei um consolo nele; ou as duas coisas.
-- Ái, Nelma, de novo?
-- Quer ver um filmezinho pornô que eu fiz? Tem de tudo...
-- Não, definitivamente que não!
-- ...........
A conversa pausou por instantes. Nelma gostaria de falar para a irmã quanta falta lhe fazia um filho, conversar sobre outros assuntos, suas preocupações. Conhecer melhor a irmã também. Mas as duas estiveram por muitos anos encerradas em suas caixas de estereótipos. E uma caixa conversava com a outra a mesma conversa esperada de sempre....
-- Você  já falou com Lili sobre sexo?
-- Sexo? Isso hoje tem aula na escola.
-- Não falo de aparelho reprodutor, sementinha... Falo do prazer do sexo, caralhos! A menina tem doze anos!
-- Onde anos! Onze! Falo com ela sobre as molecagens dos meninos e sobre como ela deve se proteger...
Ouvindo a conversa pela fresta da porta Lili ria, imaginando o que a mãe e a tia diriam se soubessem dos beijos na boca com as outras meninas; e do primeiro pirú que pegara no cinema...
Lili, pra uns tantos, geração cristal, para outros, geração y, seja lá o que fosse, no esplendor de sua gloriosa puberdade, era mesmo uma adolescente atraente, competente e completamente descolada.
Por ter crescido num lar famigeradamente tradicional, cercada por familiares tão contrastantes que mais pareciam personagens de Almodóvar, desenvolvera uma tolerância, uma paciência, uma criatividade e uma imaginação únicas.
O que a geração de sua Tia Nelma ainda buscava, como “encontrar-se”, ser feliz, apaziguar-se com Deus ou com o Diabo, para Lili já era natural...
Fazia parte corriqueira de sua vida estar em paz, viver em paz e ser feliz.
Prematura, se queria comer, comia. Se queria ficar, ficava. Com meninos. Com meninas. Pensava que amar era bom. E ponto.
Lili não julgava. Tentava.
E abria mão de um amor, de um vestido, de uma sobremesa ou qualquer coisa muito gostosa, como quem lavava louça ou fazia xixi.
Por uma questão de amorosidade apenas, escondia da mãe suas realizações e sua filosofia. Compadecia-se dela, não queria chocá-la, confrontá-la.
Sua mãe sofria demais.
Com olhos atentos se observava: corpo esquelético, nenhuma curva generosa ou feminina, o rosto cheio de rugas, a boca vincada pra baixo num contínuo muxoxo, pálpebras caídas, peito caído, bunda caída, olhar sem viço, pele sem cor, coração vazio sem amor. Vida seca. Sem a beleza de Graciliano Ramos ou Guimarães Rosa.
Lili amava sinceramente a mãe. Reconhecia sua luta para criá-la dignamente.
Percebia que Nelma e Maria eram demasiadamente parecidas. Mas tia Nelma assumia tudo e muito além do que queria assumir, para se auto-afirmar, atiçar o mundo provocativa e bélica, mexer com a ordem, criar a desordem e trazer o novo. E Maria não assumia nada. Sentia medo, medo, medo.
Os livros de cabeceira de Lili desde os doze, sempre foram Freud, Jung, Reich.
Saltava brincando e intrigada, das leituras sobre a personalidade de Hitler, para os contos de fada de Hans Christian Andersen ou os contos de Tati Bernardi.
Lia Kardec, cantava músicas do Padre Zezinho e freqüentava a gira de umbanda do centro que ficava na esquina de sua casa.
Amava comer os doces de Cosme e Damião, comungar e tomar a hóstia aos domingos, depositar presentinhos pra Iemanjá nas ondas da praia e ir buscar pãozinho de Santo Antonio na Igreja Católica do bairro.
Sem contar que toda vez que a negra Amy – sua melhor amiga- a convidava pra reunião dominical, cantava com toda força dos pulmões as notas Black gospel eletrizantes, magnéticas. Saía de lá numa vibe que só sentia mesmo ao cantar.
Nem quando cheirou, sentiu sua cabeça tão grande e cheia de luz, como sentia ao sair do culto.
Provara todas as drogas, por uma questão de coerência com sua mente científica.
Mas Lili queria vida! Não era dependente de nada e de ninguém.
Lili sabia-se livre.
E uma de suas grandes metas era aproximar de vez Nelma e Maria.
Queria ter alegria de ter família, viver longe dos tiros de palavras malditas, dos vaticínios terminais e das guerras do orgulho e do ego.
- Puta merda, pensou Lili. Juntar estas duas num tá fácil não.
Na fantasia de Maria, Lili era a Narizinho.
Ninguém enxergava por certo que por debaixo das máscaras e vestidos caprichados e limpos, habitava forte a alma nua de Emanuelle,  os dons e tons de Camille Claudel, a força guerreira e máscula de Joana D’Arc e a poesia de Florbela Espanca disfarçada de Cecília Meirelles...
Se compreendessem desde cedo a precocidade genial, contrastante e absoluta de Lili, por certo ela já estaria internada e presa numa camisa de força ad eternum.
- Mãe, vamos ao cinema?

-- Não posso não... desculpe filhinha... Tia Nelma me convidou pra sair... e eu quero muito ficar bem com ela...
-- Pôxa, mamãe... que bom... onde vocês vão?
-- Ahhhh.... errrrr...
-- Vão ver o André, aquele bonitão?
-- Que nada, Lili, que isso?
-- Hummm... vão aonde então? Um cinema, um café?... Vão ao cemitério?... Me levam?
-- Bem, Lili... hummm...
-- Conta, vai, mamãe... anda... juro segredo, nem pra Amy eu conto.
-- Ta bem, ta bem... vamos a um encontro daquela turma de malucos dela... da internet...
-- Uêba!... que bom... deve ser divertido... me leva?
-- Claro que não, Lili, é programa de adulto. Nem sei porque aceitei...
-- Ta bem, vão vocês... arrumo outra pessoa pra ir ao cinema...
-- Contanto que não seja o Carlinhos...
-- Nahhh, mamãe, aquilo já terminou... O filme que eu quero ver é aquele do Woody Allen, mais cabeça...
-- OK. Vou me vestir.
-- Depois te vejo. Bye.
Maria deu dois beijinhos em Lili e recolheu-se ao quarto – que logo depois se transformaria num boudoir.
A escolha da lingerie era importante. Mesmo que nada vissem, era importante sentir-se cuidada e atraente. Experimentou o conjunto que Nelma lhe dera de presente. “Muito vulgar...” pensou, quando viu as nádegas murchas totalmente à mostra e os bicos dos seios perfurando o bojo. “Mas assim mesmo vou botar!”, decidiu, falando consigo mesma. Demorou na maquiagem, deslizou para dentro do vestido preto, que a fazia mais magra ainda, olhou-se no espelho satisfeita e saiu. Bateu a porta dando graças a Deus por não ter encontrado Lili, que deveria ter saído depressa para a seção de cinema.
No local marcado havia apenas uma porta, guardada por um homenzarrão de terno preto e máscara, que conferia os nomes e autorizava, ou não, a entrada. Do lado, algumas meninas chorando, outras enfezadas e muitos homens xingando e ameaçando o leão de chácara. Sem resultado.
Maria esperou a chegada de Nelma, que chegou atrasada, como sempre, e vestida de... domadora!
-- Domme, Maria... Isso é roupa de domme – dominatrix – mulher que submete escravos e/ou escravas...
-- Minha nossa senhora! E o que sou eu?
-- Uma visitante. Bem bonita, por sinal. Vamos em frente?
A balbúrdia era grande, mas organizada. Grupo, panelas, formavam-se aqui e ali. Pessoas procuravam pessoas e algumas já se tocavam pelos cantos ou beijavam-se abertamente, sem censura. A fita era boa e alternava baticum excitante e algumas canções mais leves, que os casais ou as trincas, ou as quadras, escolhiam para dançar se amassando.
-- Isso aqui é uma bacanal, Nelma! Para onde você me trouxe?
-- Espero que vire uma boa suruba... Êi! aquele ali é o André, vestido de modelo do Armani... Aquela deve ser a Zora, uma tremenda dominadora; e do lado dela, pela coleira, uma escravinha... deve ser a Margô... Gente, como na nossa turma tem idoso!
E Nelma ia puxando Maria pela mão vendo como o encontro ia se animando mais ainda. Havia filósofos namorando meninas de programa, pregadores namorando pregadores, e até uma petite damme de chambre patolando, ao mesmo tempo, um imenso caminhoneiro e um sósia do Roberto Carlos.
-- Todos têm nome, Maria, mas aqui a gente só se chama pelo nome dos fakes, dos faz de conta. Meu nick, por exemplo, é Trôpega. E o seu, qual seria?
-- Ah, acho que Margô – mas já tem uma – por causa daquele bolero que eu gosto do João Bosco.
-- Muito romântico. Escolhe algo mais agressivo, vai...
-- Que tal Fodedora Anal? hahahahahaha.
-- Você me surpreende, Maria... mas então vai ter que dar o cu pra um daqueles ali...
Nelma apontou para uma procissão que adentrava o salão. Seis escravos núbios de pau duro carregavam uma imensa bandeja de prata e, reclinada nela, uma bela jovem senhora grávida usando véus que lhe acentuavam as formas rotundas e cuja transparência era extremamente sedutora. Tinha uma mimosa boquinha vermelha e o rosto redondo pintado de branco, emoldurado por um penteado de gueixa. Na mão, uma maçã grande e vermelho-escura era jogada ritmadamente para cima e esperada em baixo. O conjunto era uma Suprema Fantasia – assim dizia a flâmula bordada que vinha pespegada na bandeja...
A turma enlouqueceu. Volta e meia o andor da santa tinha que pausar para que a gueixa cumprimentasse e agradecesse algum conhecido; ou para que algum conviva mais voraz ensaiasse uma felacio, tentando descobrir qual dos negros tinha a pica mais gostosa.
Nelma estava extasiada com a procissão e só despertou do êxtase quando sentiu que Maria a puxava com violência.
-- Olha lá, olha lá, Nelma!... Pelamordedeus.... É a Tia Tereza!
-- Quê?... quê?... caramba!!! é ela mesmo...
Tia Tereza vestia um hábito comportado, mas cujas saias se abriam para mostrar o belíssimo par de coxas vestido em meias pretas de rede. O rosto estava descoberto sob a traquitanda de religiosa que usava na cabeça. Era Tia Tereza, não tinha dúvidas.
“Quem é ela?”, perguntou Nelma, querendo certiorar-se, a um amigo... “Então não sabe?... É a nossa querida Soror Tereza”. “WOW!”, foi tudo o que pode dizer Nelma, com Maria ao lado, boquiaberta e muda.
E iam na trilha para falar da tia quando deram com uma bela Princesa Léia – uma loura alta e magra. “Trôpega! É você?” ela saudou. “Simmmm... Sub Anal e essa é minha irmã, a Fodedora Anal!”, falou Nelma por cima da balbúrdia e acrescentou ... “deve ser tua prima...hahah!”. Ao que Maria, sem conseguir ouvir nada, balançou afirmativamente pra Sub Anal quando a irmã apontou para ela. “Bem, meu bem, acredita que eu nunca consegui dar o cu? Também, com essa bunda murcha, quem vai querer?”. “Acredito que o André... ele gosta de bunda murcha, omas e MILFs.”, falou Nelma no ouvido da outra, que só ouviu “André” e caiu fora em busca dele.
Quando se livraram da Sub Anal, Tia Tereza já tinha desaparecido, com certeza arrebatada por algum galã de meia-idade, ou mesmo um jovem Édipo. E estavam assim, levantando pescoços, quando Nelma ouviu alguém chamando-a “Trôpega?... Trôpega?”... Nelma virou-se e perguntou “Quem é você?”. O dono da voz riu e disse “corno teclador, em pessoa”... “Caramba! Putamerda! Finalmente!... Maria, esse é o meu amigo das noites insones, aquele fake que eu te disse... teclador da porra, essa é minha irmã a baunilha Fodedora Anal”... trôpego soltou uma gostosa gargalhada, abraçou as duas pela cintura, e sem mais levou-as para um estofado vazio num canto do salão.
E então, sem bem saber como, Maria estava fazendo um ménage com a irmã e um desconhecido, o tal teclador de uma figa. E estava gostando muito. Em pouco tempo tomava o controle dos movimentos e deixava jorrar uma fonte inesgotável de desejos reprimidos. Chupava, fodia, esfregava e, finalmente dava o cu, com o maior prazer. Nelma, feliz por ver a irmã feliz e finalmente destravada, servia de ajudante ativa, apertando, chupando e, também fodendo. Esgotaram-se os três, ali mesmo, no estofado. Depois, deram-se beijos e se cumprimentaram, corno teclador prum lado e Trôpega e Fodedora Anal, que agora fazia jus ao nick, pro outro.
Maria foi ao banheiro e, na saída, avistou Nelma aos beijos na boca com a prima Kelly. “Fizemos as pazes!”, pulavam, excitadas como meninas, as duas ex-namoradas. “Que ótimo”, falou Maria, que não via terminar as surpresas da noite. E saíram as três em busca da Tia Tereza.
Encontraram a tia puxada pela mão por alguém com uma carinha bem conhecida, com os puffy niples de fora. “Lili! Gritou desesperadamente Maria”. Lili aproximou-se das tias e disse: “Ora, mamãe, eu vi você, a sua verdade, clara e ardente, e estou muito orgulhosa da minha mãe!” Tia Tereza segurou a bofetada que Maria ia dar em Lili, enquanto Nelma e Kelly abrigavam Lili, escondendo-a da mãe. Rápido saíram as cinco para a rua.
-- Lili, eu não te perdôo. Quem é você, minha filha?
O diálogo que se seguiu entre mãe e filha foi repleto de revelações. Não de fatos, mas de sentimentos e emoções. Lili finalmente contou quem era e o que desejava da vida. Maria vomitou todas as insatisfações e ressentimentos e disse o que, agora, desejava da vida. Finalmente as duas deram-se conta de que eram muito parecidas, apenas com circunstâncias de vida diferentes. Apaziguadas, foram ter com Tia Tereza, Nelma e Kelly que, tranquilamente, fumavam um baseado.
Nelma descobriu, então, que a sobrinha que há pouco botara peito era na verdade a mipega, mifala, michupa, mizoa, miama, mibate, mileva, a multi “mi”, a menina mais ativa e divertida da comunidade do encontro. Que descoberta, que alegria!
As cinco parentas de três gerações, agora unidas e resolvidas, fizeram uma oração improvisada por Tia Tereza que, em resumo, queria dizer que agradeciam a Zeus e a todas as divindades das águas, do fogo e do ar, pela imensa oportunidade de, finalmente, se conhecerem, se amarem e saírem por aí fodendo com todo mundo.
E corno fodedor, que na verdade era o anjo da guarda de Maria materializado, sentiu-se resplandecer de bênçãos, repleto de júbilo enquanto levitava vendo a cena.
A história das irmãs atravessara muitas vidas e dimensões.
Resolver esse drama tinha de fato exaurido toda sua energia celestial.
Voltou assim para os céus, subindo na hierarquia dos anjos e inaugurando lá nos altos, a comunidade dos passivos do bem, deixando para trás, aqui na Terra, a falange de seus sucessores: os cornos inconscientes, os fodedores anônimos e os unidos do azul.
Um mês depois levou com ele Tia Tereza, mais que na hora de sair dessa pra melhor.
E hoje, sempre que chove e Nelma escuta o ribombar dos trovões, reza pra Tia Tereza, que haverá de estar ao lado do corno fodedor, batendo seus atabaques e preparando o caminho pra sua subida.
                                                                 
25ago12


sexta-feira, 13 de julho de 2012

Carcaças

objetos, objetos, objetos/tenho-os tantos.../as gavetas lotadas/se assemelham a frases/a parágrafos/que guardam palavras/que envolvem letras/que são o nada/à busca do tudo.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Manoela e Joaquim


Manoela e Joaquim, amigos para sempre, passeavam pela orla depois de entornar algumas tequilas. O papo estava sem direção até que Manoela atirou:

-- Na próxima encarnação quero vir boazuda, loura, gostosa, burra... e me casar com um fazendeiro rico....

-- Ahhh, na próxima encarnação eu quero vir garoto de programa, com um daqueles paus cinematográficos, que nunca dormem...

-- É... a gente podia atá ser amantes...

-- E matar o fazendeiro rico... Que tal?

-- É....

Mais alguns passos e mais alguns risos.

-- O problema, Manu, é que gosto de você assim. E sendo burra, tendo outra cabeça, você seria outra pessoa...

-- É, mas sendo bonita e gostosa não ia ter que me preocupar em ser inteligente...

-- Mas, hummm... não é só a inteligência...

-- Vai dizer que é esse corpão? Haha... já usei muita minissaia, mas agora não...

-- Né não, Malu... acho que é a tua natureza, tua maneira de ser. Tem a ver com tua inteligência? Sim, mas tem algo mais: atitude, sinceridade, rapidez e um certo aventurismo...

-- Aventurismo, rapá? Que isso!

-- É...aventurismo. Falta de medo, peito aberto...

-- Peitão?

Manoela tem esse dom de fazer Joaquim rir; em qualquer circunstância, desarmando qualquer pensamento mais heavy note.

-- Puxa, Manu... sério... Você pode até ter essa casca aí que você quer, mas ser você.

-- Bem... não acho... a casca é parte do ser, entende?

-- Como a arquitetura de certa maneira determina a engenharia?

-- É senhor Joca... mais ou menos.

-- Mas qual a graça de ser a aquela mulher que você quer ser sem ser essa mulher que você é, pra ver, observar, mexer, fazer fazer?

-- Aí a mulher gostosona, bunduda, peituda que eu quero ser não ia ser... porque a mulher que eu sou ia ficar forçando ela a fazer coisas que não seriam da natureza dela...

-- Você quer dizer que você não seria ela... futz! Acho sem graça essa dona reencarnada.

-- Mas você seria um garoto de programa, pauzudo, forever... o par perfeito... ia gostar mesmo da mulher boazuda e burra.

Andaram mais um pouco... Joaquim pensando, pensando, e depois dizendo.

-- Me interessa é você assim... esse teu abraço, essas tuas qualidades incríveis... essa dona reencarnada não me surpreenderia... quer dizer, esse tipo de gente não me atrai... não me atrai loura-maromba... nem é questão de não ser inteligente... não sei lidar com essas donas.

-- Mas esse eu assim e esse você assim não transam nem mesmo catam. Acho que to procurando algo mais excitante numa ficção.

-- Sei, Manu... somos melhores amigos... e isso é demais. Acho que você está ficcionando pensando num aqui-agora que só seria possível numa história de reencarnação... Na verdade, essa conversa é apenas um divertimento.

Mais alguns passos e Manoela se manifesta.

-- É sim... um divertimento.

-- Na verdade, eu acho uma porra essa mulher que você quer ser... e meu pau de pilastra não está nem aí.

-- Opa!

-- ..............

-- .E se eu fosse uma odalisca no harém dum xeique?

-- Não serve também. Pode ser mais fantasista, mas não serve...

-- ...............

-- Mudando de assunto, Manu, você fica por cima e esborracha o cara que está embaixo?

-- Me movimento bastante.

-- No sexo tântrico a mulher, a deusa, fica sempre por cima. Não é bem comandando... é dividindo a responsabilidade do gozo dos dois.

-- Parece bom. Mas de lado também é. De lado, de quatro... não gosto de me limitar.

-- Tem uma coisa que eu gosto demais em ti, que é o astral, o bom humor sempre, desanuviado.

-- Legal, somos os dois assim, um com o outro.

-- Esse teu bom-humor, Manu... você ri quando transa?

-- Às vezes...

-- E conversa quando transa?

-- Assuntos picantes.

-- Não... to dizendo conversas em geral. Às vezes uso isso pra prolongar, segurar a onda. Às vezes sai naturalmente... Tipo cata-conversa-cata-conversa...

-- Sem tirar?

-- É... sem tirar.

-- Sem ficar gago?

-- Hahah... porra, Manu, aí sái....

-- Não sou perfeita, tenho falhas... haha.

-- Tem nenhuma não, Manu... vem cá...

Seguiram conversando abraçados, os melhores amigos de sempre.

Perov=12jul12

No Title


silente/quase inerte/(so I hear her)/passa/e diz:/"Noite"/e de repente alegra meu rosto/com uma pergunta qualquer/e me faz lembrar/muito bem/como é ancestral e bela/em seu silêncio/noturno...

terça-feira, 3 de julho de 2012

Uma história mal acabada


Não adianta. Sou mesmo desconfiado. Sempre fui. E, se me perguntarem, não há razão para isso. Meus pais nunca me surpreenderam com uma paulada na cabeça, ou algo assim do gênero. Nunca fui maltratado por professores ou colegas de classe. Meus amigos jamais usaram contra mim qualquer coisa que eu lhes tenha confiado. Minhas namoradas nunca me traíram. Mas... assim mesmo, sou desconfiado.

Não sei se ser como sou tenha me livrado alguma vez de uma punhalada nas costas. Não sei porque a desconfiança, em mim, não é uma atitude pensada, ou uma estratégica. É da minha natureza.

Toda vez que tenho que falar em público me preparo bastante. E, quando entro no recinto, olho os assistentes nos olhos, um a um, buscando quem irá me puxar o tapete. Mas nada acontece. Incrível como, sendo meio acabrunhado (que é a expressão corporal que uso para despistar os mal-intencionados), consigo despertar uma certa simpatia. A ponto de dizerem-me que tenho “carisma”.

“Carisma”, ora bolas, tem quem tem. Não eu. Nem faço questão de ter. Quero que me deixem em paz. Que não me sigam. A idéia de que especialmente me queiram me transtorna. Quem lhe quer, quer lhe transformar. E, se não consegue, quer vingar-se. Assim, faço questão de não seduzir ninguém, de não encantar ninguém. E, por anos esperei encontrar uma mulher anódina.

Foi assim que conheci Maria (não é o seu nome, mas fica sendo, para o caso de alguém querer usar isso contra mim). Era a aluna menos destacada da classe. Vestia-se como que para esconder-se. Nem querendo conseguia-se imaginar os seus seios, as suas ancas, os seus pés. Teria freqüentado uma igreja evangélica sem despertar qualquer estranheza. Ao menos por sua total sensaboria; já que não seria capaz de dizer “amem”, nem para si; mesmo que o próprio Cristo aparecesse e falasse com ela.

Pois bem. Nosso primeiro encontro teve causa e desenlace que não me recordo – isto prova como foi indiferente. Com o tempo, trocamos um beijo e ela deixou-me tocar-lhe um seio. Sem perplexidade ou qualquer outra reação. Estava escrito que iríamos nos casar.

Tivemos dois filhos. Todos os dois de parto normal; assim como normal foi sua gravidez. À noite dividíamos nossa atenção entre eles e a televisão. Maria gosta do Jornal Nacional e eu gosto de rodar pelos outros canais. Nada dramático. Ajeitávamos tudo organizada e perfeitamente assim, Maria podia tratar de suas coisas e eu dos meus livros e escritos..

Até que ontem à noite, quando eu estava por iniciar minha primeira aula do semestre, sentou-se bem á minha frente aquela garota estranha. Quer dizer, era estranha porque exatamente me chamou a atenção e meu truque de ficar olhando nos olhos não resultou em qualquer diagnóstico.

A garota estranha chama-se Joana (outro nome trocado, se me perdoam). E veio se apresentar ao final da aula, congratulando-me pelo ponto bem dado. Nunca tinham feito isso. Pegou-me no contra-pé. Ao invés de acabrunhado, fiquei animado. Estava também escrito que haveria algo entre nós.

Três meses depois do início das aulas Joana procurou-me para dizer-me que estava grávida. A punhalada atingiu-me sem que eu previsse. “Mas como?”, perguntei. E afirmei, quase batendo com a canela na mesa, “Usamos preservativo todas as vezes!”. E Joana respondeu-me simplesmente “Não sei.”. E saiu.

Na verdade, nosso sexo era selvagem. Pelo menos para mim, que nunca havia conhecido algo distinto da posição missionária com Maria e a cautelosa masturbação de lavatório quando era adolescente. E Joana era sempre a caçadora e eu a caça, que se regozijava quando, ao revés, fincava-lhe a lança bem fundo no profundo mesmo da noite escura do seu entre-pernas. Desculpem-me o arroubo poético, mas era assim que me sentia – um Casmurro convexo, alucinado. Durante uma dessas devia ter esquecido de usar o contraceptivo.

Com Joana, larguei de lado a desconfiança e assim fui compensado. Uma gravidez não encomendada. Uma confusão dos diabos. E um completo despreparo para enfrentar a situação. O que eu falaria para Maria? A pergunta remoeu-me por dez dias, ao fim dos quais, ao entrar em casa, surpreendi-me com Joana e Maria conversando finamente no sofá da sala.

“Desastre!”, pensei. E não me mexi. Até que ambas me chamaram e sentaram-me, bonitinho, na poltrona do papai. Ali mesmo, na frente da TV, só que virado para elas. E aí me puseram a par, tim-tim por tim-tim, do que haviam acordado, que resumirei, poupando os detalhes: (a) Maria ficava com o apartamento e uma pensão que era mais ou menos a integralidade de todos os meus salários de professor e a metade do estipêndio como Procurador da Fazenda Nacional; (b) sobrava-me o apartamento deixado por meus pais (lembrete: despejar o inquilino) e as economias depositadas no banco do Brasil; e (c) o que sobrava para mim seria utilizado para criar meus filhos (até então três) até terminarem a faculdade. Ponto.

Não tugi nem mugi. Saí de casa com um par de ternos, algumas camisas, suficiente roupa de baixo e algumas calças. No dia seguinte aluguei um apartamentinho no Catete. Instalei uma cama grande onde agora passo as horas me exercitando com Joana – que, a final, não estava grávida coisa alguma. Por precaução, sempre que chego em casa olho em baixo da cama e dentro do armário do quarto. Seguro morreu de velho. E eu ainda sou novo.

Pero Vaas = 03jul12