quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ah, Você...

Estou ouvindo Devon Sproule, a milhas de distância de você. Mas perto o suficiente para despertar-me a lembrança dos poucos dias em que nos vimos – um par?

Creio que hoje você deva ter uma ideia clara do quanto ansiei por vê-la da primeira vez. Vencendo a SUA ansiedade e os seus temores, tanto fiz, tanto implorei, que você consentiu em ver-me. Aquela primeira vez foi histórica – havia a nossa PRÉ-história ali pousada sobre nossas expectativas. Pesavam muito os meses de diálogos infinitos, de roda-que-roda, de parolança e de curiosidade. Ah, a viagem de ida... Imagino como VOCÊ deve ter-se sentido – na véspera, na manhã, na hora. Aflita, essa é a palavra.

Mas aí foi incrivelmente fácil ajustarmos a vista ao movimento de nossos corpos no espaço real; os ouvidos à voz não filtrada. Nos abraçamos e rimos. Dito assim parece simples. Mas não. Abraçar você foi muito, mas muito, bom. Corpo inteiro nunca é simples. E o riso foi mais uma ponte linguística, ou outro tipo de abraço, esse agora pra dizer que estava tudo bem.

Não sei bem se houve estratégia de parte-a-parte. Pode ter sido um reconhecimento das intimidades escritas e lidas. Não sei bem. Uma vez que o pacto selou-se, ainda no aeroporto, agora sim tudo ficara natural. De modo que estarmos sozinhos num quarto era o desdobramento mais que esperado das provocações que nos fazíamos antes de nos conhecermos. Pessoalmente, quero dizer.

Você tem realmente peitos fartos. Sempre tentei convencer-me de que era mentira. Exagero. Mas tem. E gostei muito de vê-los, cheirá-los, apertá-los, beijá-los e chupá-los. Acho que você também gostou de mim. Apesar de nossas diferenças visíveis, ultrapassamos todas elas. E o encontro foi bom. Para mim, muito bom! Tanto assim que procurei prolongá-lo, logo sabendo que deveria seguir de volta, deixando o gosto de quero mais.

Voltamos a nos falar da mesma forma – letras e vozes. Não foi a mesma coisa, porque agora havia uma pedra no caminho. Então falamos sobre a pedra e rodeamos a pedra, mas não teve jeito. Porque mais e mais eu queria tornar a vê-la. E não entendia a sua resistência. Zanguei-me. Zanguei-me bastante, mas temia perde-la. E por isso fui, daquele meu jeito, a rodear, rodear, rodear, até que você concordou.

Da segunda vez que nos vimos já tínhamos, cada um, o seu plano traçado. Você queria caminhar por aí e eu queria trancar-nos num quarto. Acabei caminhando, claro, e sendo consequente, e bom moço, e compreensivo, mordendo-me inteiro de desejo e ira. Passou-se um dia. Dormi num hotel da vizinhança e, no dia seguinte, mais passeio. Tenho certeza que você se deu conta que minhas falas, embora muito bem elaboradas, eram meramente um redondel em torno da sua pessoa concreta – mais especificamente, dos seus peitos maiores do que eu imaginara da primeira vez.

Acaba que você também gosta de uma conversa admirada e, no final das contas, essa sua pequena (para você, grande) vaidade, essa vontade de ouvir e falar, fez você ceder à minha proposta, embora me asseverasse que isso não queria dizer nada.

Engraçado: se da primeira vez nem sei bem como era o quarto, dessa eu fixei na memória todas as cores e volumes, os ângulos das portas e da janela, tudo, parecia um pintor memorizando os detalhes de um quadro. Sei até que, atendendo a um pedido meu, você usava saia. E eu dizia que você ficara muito bem de saia, que estava linda, que tinha a boca mais linda, os olhos mais lindos, o cabelo mais lindo... Imagina como é dizer isso tudo, sem parar, discutindo o destino das estrelas. Fato é que você não sucumbia. E não queria mesmo.

De repente, nem sei como percebi o timing, e lá estava você dobrada sobre meus joelhos, a saia levantada e eu aplicando-lhe um corretivo (ah, você não usava as calcinhas brancas que eu pedira; eram pretas, como você gostava). Você nunca poderia imaginar como eu era forte e como conseguiria segurá-la (logo você, a dançarina), prendê-la, apertá-la e tê-la ali, daquele jeito submisso.

Umas palmadas não foram suficientes para aplacar a minha raiva. Segui batendo, batendo. Mas, a meio do castigo, dei de abrandar a mão. E já agora mesclava carícias, apertos. E foi assim que minha mão cansada foi abrindo suas nádegas e sentindo os tecidos da sua carne, os pelos, e descendo até o ninho entre eles.

E sua resistência modificou-se em conluio. E enquanto eu enfiava-lhe os dedos você se movimentava para controlar a penetração – da maneira que lhe desse mais prazer. E foi assim que fodi você. Não mais. Não nada. Depois de gozar, você ainda se ofereceu para buscar o meu prazer. Mas não mais. Não nada.

Não trocamos palavra, nem sobre o que acontecera, nem sobre coisa alguma. Saímos dali. Fui para o aeroporto. Você foi para outro lado. E, na volta para casa, fui fechando este conto como se subisse o fecho-éclair do agasalho, protegendo-me do vento, que agora já era uma brisa e mais tarde era calmaria.

Pero Vaas
17jul14