segunda-feira, 31 de maio de 2010

Imagens

Somos provocados por imagens desde que nascemos. A visão é um sentido privilegiado e sua comunicação com o cérebro, através do córtex occipital, mais rápida do que a de todos os demais sentidos.

Também o banco de memórias associativas da visão é dos mais ricos e a ele recorremos incessantemente, de forma voluntária ou induzida.

Meninos se estimulam preferencialmente pela visão. É importante para eles descobrir a imagem do sexo feminino – a começar pela nudez da mãe, das irmãs, das tias e das mucamas (ver “Casa Grande e Senzala” - Freyre, Gilberto – 1933). Revistas masculinas, filmes eróticos e experiências veladas são permanentes desde a adolescência até a vida adulta.

Não é de estranhar, para as mulheres, que homens lhes peçam para ver esta ou aquela parte de seu corpo. A negativa a tal pedido faz parte do jogo erótico. Assim como o uso de vestuário destinado a estimular o desejo masculino; sem, entretanto, atendê-lo. As transparências, os decotes, a lingerie, são artifícios utilizados pelas mulheres para provocar o jogo que leva os homens a pedir e as mulheres a negar.

Isto posto, devo confessar que gosto de imagens. Gosto de paisagens, quadros, fotos, ilustrações. Gosto de observar movimentos e de ver detalhes. Minha memória visual guia minha imaginação e meu desejo. Não há como fugir de sua permanente sede e sua renitente provocação. Por isso mesmo tornei-me desde sempre um pedinte, vulnerável ao “jogo do não”. A demandar que me mostrem a fatia lunar de um seio, ou um precipício de impenetráveis prazeres...

terça-feira, 25 de maio de 2010

Oxosse

Oxosse é o Rei da Nação Ketu, dos Yorubás. Sua personalidade é definida como a do Grande Caçador. Ele nos ensina a virtude da paciência combinada com a virtude da rapidez. Ao espreitar a caça, não se importa com o tempo que pode levar para tê-la no lugar perfeito para disparar-lhe, sem vacilar, a flecha letal.

Oxosse caminha como leopardo, embrenha-se no mato, esconde-se, mimetiza-se. Por assim ser e fazer, é um inimigo poderosíssimo, que deve ser temido e evitado. Quem quiser sobreviver ou sair sem dano, deve ter cuidado com Oxosse – este Orixá não usa força bruta, nem pesada borduna; entretanto, seu ataque é fulminante, insuspeitado, silencioso e mortal.

De outra parte, Oxosse é um ideal de beleza. Atlético, ágil e resistente, Oxosse nos estimula a cuidar de nós mesmos. Unindo ataque e defesa, o orixá da caça nos convida a refletir sobre o valor do silêncio, da palavra pensada e maiormente contida.

Como rei e caçador, Oxosse é o grande provedor da subsistência de seu povo. Dele é o domínio das matas, onde se embrenha a caça e onde se pode encontrar os frutos da terra . Por extensão, Oxosse é, também, o orixá da agricultura e do engenho – habilidades que garantem sustento e proteção continuada e permanente.

No sincretismo religioso Oxosse é representado, no Rio de Janeiro, por São Sebastião. Desconheço o porquê dessa escolha, mas fico de prontidão para a festa desse orixá maior, que ocorre em janeiro de cada ano. Okê Aro! Ode Coquê Maió!