domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Fuga

A Dama do Lago sabia que teria que abandonar Malman desde o início da história dos dois. Mesmo assim, deixou que se envolvessem até o ponto de terem uma filha, e mais...

Durante semanas e meses planejou como faria para deixar a clareira do bruxo. E a cada vez que determinava, adiava. Mesmo tendo os poderes e o conhecimento suficientes para lidar com o coração dividido, a Dama ia-se envolvendo mais e mais com a vida que levava.

Primeiro, a mera satisfação de seduzir Malman. Depois, o contentamento de arrancá-lo do torpor e refazer sua vida, alterando seus códigos, sua morada e até sua magia. E, mais importante ainda, embarcando com ele na aventura de ter uma filha e cria-la até aquele ponto!

A Dama caminhava firme e rápida pela floresta, e ia repassando os meses que passara ao lado do bruxo. “Não espanta” – dizia para si mesma – “que me demorasse tanto a tomar tino e para usar minha determinação!.... A final, vingou em mim o poder de controlar meu destino e de evitar o que não quero....”

E, quanto mais velozmente seguia pela floresta, foi a Dama  transformando-se. Primeiro os cabelos foram escurecendo; depois foram arredondando suas curvas, aumentando o diâmetro dos quadris e das coxas e o bojo dos seios; e finalmente o rosto, com seus detalhes e saliências. E de repente ali estava, correndo com a menina Lívia ao colo, a Bela das Brumas!

De fato, não fora difícil tomar a aparência física da Dama do Lago. Esta parte envolvia uma magia muito simples. Difícil mesmo foi dar-lhe uma personalidade, um caráter, tão diferente do seu; camuflar os seus jeitos e movimentos, sob aquelas meigas maneiras; e, mais ainda, amar Malman de forma tão terna, quando a cada noite desejava devora-lo como o fizera antes.

Mas tudo valera a pena. Desde o primeiro encontro com o bruxo quisera voltar a vê-lo, a estar lutando com ele no catre. Sabia, entretanto, que não poderia ser como Bela. Aliás, nunca poderia ser como ela mesma, assim como agora não mais poderia ser como a Dama. Era seu destino traçado por Chronos quando nascera: não poderia unir-se a qualquer homem sem que isso trouxesse a desgraça para ambos! Pôde enganar a sina porque usara um lado claro da sua matriz energética, mantendo inerte o seu lado escuro. Mas esta dualidade tinha validade certa. Assim como Eros e Tânatos se alternam, imantados um ao outro, assim as duas faces da personalidade da Bela poderiam viver, por um tempo a revezando-se. Mas sempre chega a hora de refundirem-se em prazer e dor.

Sim, prazer e dor. Por mais que tivesse sido grande a alegria de ter vivo com Malman – e, portanto, o sofrimento por deixa-lo – Bela abraçava seu momento de retorno com uma sensação de resgate de si mesma, até de alívio. E foi com este ânimo que atravessou o último vau de rio e chegou à Clareira Invisível – seu lar.

Logo se encontrou com a Grande Mãe – a quem entregou Lívia. Não eram necessárias explicações, já que Mãe via tudo, ouvia tudo e, portanto, sabia de tudo. Um abraço foi suficiente para colocar as notícias em dia e para dar as boas-vindas à Bela.

Foi, então, cercada por seus escravos e escravas e meia dúzia de pequenos Incubus e Succubus. Submissos, escravos e escravas puseram-se de joelhos diante de Bela, os olhos baixos escondendo o desejo de servi-la; enquanto isso, os pequeninos demônios voavam em volta da bruxa e alegremente puxavam-lhe os cabelos, mordiam-lhe os lóbulos das orelhas, ou mesmo apertavam-lhe o bico de um seio.

Cansada de tanto movimento, acabou por espantar a todos e dirigiu-se para sua morada, que ficava mimetizada entre árvores frondosas à beira da Clareira Invisível. Pronunciou as palavras mágicas e, ao abrir do portão, viu que tudo permanecia como havia deixado – quando saíra à busca de Malman, estava numa fase gótica, exercitando-se na arte da dominação e, portanto, a decoração das salas e alcovas montava o cenário indicado para treinar e disciplinar seus escravos e escravas.

Diante daquele ambiente não condizente com seu estado d’alma, Bela estalou os dedos e num átimo os aposentos ficaram mais leves e o perfume de baunilha espalhou-se pelo ar. Satisfeita, bela despiu-se, olhou-se no espelho, reconheceu-se e devagar entrou na grande banheira de águas mornas para repousar o espírito e o corpo. Adormeceu e sonhou com Malman e Lívia – os três brincavam juntos no pequeno lago e as palavras e risos eram doces e felizes, até que Bela acordou assustada.

Não querendo voltar ao passado daquele sonho, lutando contra aquelas lembranças, Bela ordenou a vinda de dois escravos e de sua escrava preferida. Deitada na imensa cama recebeu-os e mandou que se esmerassem. E assim, com a ajuda de um par de Incubus, Bela foi da exasperação ao êxtase. Sugada, lambida, esfregada, massageada e penetrada, chegou ao clímax várias vezes. Até que deu um basta, expulsou a todos da alcova, caindo, em seguida, num sono sem sonhos.

Perov = Janeiro de 2012

Para DB, inspiradora da série.

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