sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Na Folia 2010

Ela disse tchau e já ia rumando pra porta quando ouve o marido reclamar: “já vai?... com quem vai?”. “Ôxi...”, diz ela, “com nossos amigos...” e, sem dar chance a mais conversa, fecha a porta atrás de si, rapidamente.

Na rua, já começa a saltitar. Escolhera um vestidinho verde, com um decote que deixa os ombros à mostra. O resto são colares e serpentinas penduradas no pescoço e uma corneta de papel colorido na mão. E vai depressa, serelepe, ao encontro dos amigos e do bloco.

Ele diz tchau e já ia rumando para a porta quando houve a mulher reclamar “outro dia de folia?... não vá se embebedar até cair, hein?...”. “Ôxi...”, diz ele, “...é uma vez por ano, meu bem...” e, sem dar chance a mais conversa, fecha a porta atrás de si, rapidamente.

Na rua, já começa a sambar. Botou no corpo uma sunga e, sobre ela, apenas um pareô, pra liberar geral quando pudesse. O resto são colares e serpentinas penduradas no pescoço e uma bisnaga de lança-perfume na mão. E vai depressa, tropeçando nas havaianas, ao encontro da aventura e do bloco.

O bloco reuniu-se no Largo do Varadouro e, quando chegaram, a zabumba já ia forte. Era frevo, era marchinha, era tudo. Alguns bonecos enfeitavam a passagem; fitas, confetti eram atirados de todas as partes; e bebia-se de tudo – batidas, limão, frevesi, e até rum montilla traçado. Água e refrigerante também.

Ele seguia pulando, não interessava o ritmo ou a marcha. E em certa altura o pareô quase caiu, deixando à mostra a sunga sem-vergonha e a bisnaga de lança enfiada nela. E ela seguia dançando, encantadora, sabendo todos os passos e todos os refrões – princesa rodeada por uma turma de marmanjas e marmanjos protetores.

No meio da batalha, quando já desciam a Saudade, os olhares se cruzaram. Ela o viu primeiro, sacolejando engraçado, esbaldando-se sem eira nem beira; ele a viu depois. Tentou se compor mas não deu – ele era ele e ela, ela. Entre piscadelas de um para o outro, beijos soprados no ar, flertes graciosos ou não, foram se aproximando, se aproximando. Em dado momento deram-se as mãos e ele puxou-a para uma travessa estreita.

Encostaram-se no vão de uma porta. Entre apertos e amassos, ela sentiu o pau dele, duro, encostado nas coxas, no ventre, conforme se arquitetavam no ar; e ele sentia-lhe o monte gozoso e a boceta entre os dedos. Conseguiu beijar-lhe um seio pequenino, apertá-lo. E ela, em troco, os grandes olhos bem abertos, beijou-o na boca, com a boca molhada de lábios adoráveis. Mas quando a coisa ia esquentando, e ela percebeu que teria que ser ali mesmo, conseguiu desembaraçar-se não soube como, e voltar lepidamente para a folia.

Ele, por mais que buscasse, não mais a encontrou. E depois de um intervalo meio desconsolado, arranjou-se com uma mulata celeste, indo desbarrancar por outro lado. Ela, comportada agora, brincou mais um pouco, ganhou chapéu multicolor, cantou e dançou até terminar o baticum.

À noite, ela fogosa cavalgou o marido. Ainda havia adrenalina e o sonho vivido que a tornavam amazona sem par. Ele, embora bêbado, encontrou o caminho e comeu a mulher de quatro, socando-lhe a fanfarra como herói de bangue-bangue – na cabeça a morena do bloco. Marido e mulher estranharam tanta vitalidade; mas, antes de cair no sono, espantaram as suspeitas... a final, era Carnaval...

Para V/, a foliã.

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