terça-feira, 16 de março de 2010

A Doença - II

É mais ou menos farta a literatura que procura entender a doença como estigma. De certa forma todos sentimos o peso do luto quando ficamos doentes ou temos um ente querido que passa por uma fase de saúde ruim.

O luto afasta as pessoas; e conheço muitas delas que se mantêm à distância de parentes e amigos doentes. É como se sentissem o perigo da contaminação -- seja da doença em si ou da tristeza que ela carrega.

Paro para pensar e recordo-me da última vez em que estive realmente enfermo. Sofri uma cirurgia grave e a recuperação foi difícil e dolorosa. Entretanto, não me senti pejado por nada disso. Foi uma excelente oportunidade que tive de recompor minha vida e priorizá-la acima das pequenas chatices e dos aborrecimentos triviais. Saí do hospital com a mente mais saudável do que esteve durante muitos anos de minha vida. Ficou-me apenas um travo -- a ausência de algumas pessoas amadas. Não porque percebi algum descaso. Mas porque não entenderam a fantástica oportunidade que a doença traz para que priorizemos o importante.

Neste momento sinto que perdi um tanto da energia vitalizante que me preencheu quando saí do hospital; mas minha percepção de mudança de ânimo continua a mesma. Há dois amigos em minha rede que estão passando pelo momento muito difícil de terem familiares em processo terminal. Desejo a eles o que passou-se comigo. E que seja duradouro!

[16mar10]

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