segunda-feira, 1 de março de 2010

Oxalá

Nenhum orixá é de fácil compreensão. Identificar as características de um orixá, incorporá-las, é tarefa que requer o uso da razão e o sentimento espiritual. Dentre todos os orixás, são os mais velhos os mais difíceis de lidar e entender. Carregam em si tanta contradição, e tantas lendas que atravessam tempos diferentes, que fixar uma definição para eles é exercício pedregoso e muitas vezes árido.

E Oxalá - Oxalufan - é o mais velho entre os mais velhos. Por isso tem a ver com a história do Mundo e com todos os demais orixás, misturando-se a eles nas lendas e nas cabeças dos filhos. É companheiro de Obaluaê, pai de Oxum, esposo de Yemanjá e Nanã, vizinho de Tempo, e tem altos e baixos com Exú e Xangô (coisa apenas aparente, é claro, mas que gera dúvidas e incertezas).

Sinto a presença de Oxalá como o ar e a água que me envolvem, mas não me comandam. Aliás, Oxalá não ordena, não mostra a seus filhos o caminho do Bem e do Mal - ao contrário: entrega-lhes a decisão sobre seu destino, sem dar pistas de qual o caminho a seguir. Assim, com a porta do livre arbítrio aberta para eles, ficam os filhos de Oxalá muitas vezes inertes. E isto pode nos levar a crer que a energia de Oxalá é a mesma da inércia, da estagnação e, por último, da pulsão da Morte. Digo que é um engano esta crença - aceitá-la seria ignorar a força libertadora que reside em Oxalá, força que sinto com meu coração e minha mente.

Há outras tantas visões de Oxalá; umas que ressaltam sua oposição a Exu e outras que o associam à primazia de Olorum, o Criador de Tudo, afirmando ser ele o pai de todos os demais orixás. Tudo isto, entretanto, são tentativas de prender Oxalá numa gaiola. Melhor fazer o seguinte: abrir os braços bem abertos, fechar os olhos, respirar compassada e silenciosamente e entregar-se ao "nada". Isto é tudo.

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