Há uma semana reli “O Apanhador no Campo de Centeio” numa edição antiga, surrupiada da biblioteca de meu pai. Reli, também, “As Cartas a Théo”. Enquanto repassava este último, ia me transportando para o campo em que se dá a cena do suicídio de Van Gogh – memória do belíssimo filme de Altman, com Tim Roth no papel do pintor suicida.
De alguma forma fui montando um puzzle de memórias, algumas passadas e outras cinzeladas na roseta do Eterno (eu). Quer dizer, o puzzle montou-se a si mesmo já que faz tempo não sou nem o dono nem o plenipotenciário controlador das vadiagens de minha mente.
E eis ali, na minha frente, o campo dourado que cobria tênue a boceta de minha amiga. “Não faz jus a ela...” penso, rompendo com a imagem, “... não faz jus a ela...”. Realmente, a tal imagem nada diz do banho de quarenta e cinco minutos que precede a cena. Nem refere a diversão que era ter minha amiga comigo, dormindo e acordando. Nem relata as histórias que me contava e eu fingia acreditar (acreditando mesmo). Nem dá pistas do que ela criava do nada para assuntar alguma coisa, para armadilhar minha risada. Nem leva ao gesto mandrake que nos fazia esquecer o parágrafo para iniciar outro.
Falo corrente e coerentemente de eternidades e recordo, de passagem, algumas cantigas de santo. Faço isto tudo com o élan de quem pedala assobiando. É que tenho certezas testadas pelo tempo – hoje minha amiga me escreveu.
Para NNz.
=01jul10=
Nenhum comentário:
Postar um comentário