segunda-feira, 5 de julho de 2010

WW II


Domingo de manhã atirei na minha cabeça e a pistola falhou. Desisti de me matar. Sábado havia ido à casa desse conhecido que negocia com armas para colecionadores. Fingindo interesse na mais barata, pedi para atirar um “round” com uma Beretta. Deixei o dinheiro do depósito e fui para casa me educar com a Beretta e munição. Dei dois ou três tiros no terreno baldio e achei que era o suficiente para não errar na hora H. Não contava com a maldita porcaria desses produtos “made in Italy”... Pior que isso só minha mulher, Angelina – católica fervorosa e uma carcamana infiel de uma figa. Há duas semanas peguei-a na cama com um outro carcamano, amigo dos meus sogros. O sujeito fugiu enquanto ela caía de joelhos e me pedia perdão em nome de Santa Rita de Cássia – sua santa de devoção. De olho na grana que perderia se a mandasse embora, resolvi perdoá-la e, juntos, espiamos nossos pecados com a ajuda do Padre Marianetti. Reconheci que andava bebendo demais, e até batendo um pouco na Angelina; em troca, minha mulher prometeu-me obediência e respeito. As coisas andaram bem por alguns dias, até que, numa noite, cismei de comer o rabo de Angelina sem usar o azeite prima pressione que dormita no criado mudo. Diante da recusa dela em ser imolada, dei-lhe um tapa de leve e saí para beber e jogar bilhar com meus amigos. “Arre, por que promete?”, pensei enquanto ouvia o choro e a chuva de impropérios piemonteses assacados por Angelina. Não deu um par de dias e lá surpreendo minha mulher de novo, dessa vez com o mulatinho chinfrim – um tal Maicon – que faz as vezes de entregador do mercadinho do meu sogro. Aí me deu vergonha e decidi me matar, principalmente porque Angelina ria e eu via que não tinha remédio. E aí está a razão do meu suicídio tentado. Agora que passou o susto e que caí em mim, voltei lá no conhecido das armas. Devolvi a Beretta e, desta vez, escolhi uma Luger P08 – a popular parabelo – já que os alemães estão por cima e a azzurra por baixo. Deixei a grana do depósito (muito mais grana) e dei mais dois ou três tiros no terreno baldio. Cheguei em casa fingindo de bêbado, dei dois tapas na Angelina e disse que ia sair com meus amigos. Bati a porta e, na volta da escada, fiquei esperando. Quando a porra do carcamano ou do mulatinho aparecer eu passo fogo. Aqui que eu me mato prá valer!

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