Explosão de Tunguska - Floresta destruída. |
Desde sempre os meteoros, assim como os cometas e as estrelas cadentes, despertam a curiosidade, o medo, a imaginação das gentes. A estes fenômenos celestes foram atribuídos avisos, enchentes, guerras e toda sorte de catástrofes, como o Terremoto de Lisboa de 1755. No entanto, ver-se um risco no céu é considerado um bom augúrio. Tanto assim que o Evangelho de Mateus reporta que uma estrela cadente anunciou o nascimento de Jesus e guiou a peregrinação dos Reis Magos até o estábulo onde se encontrava o Menino Deus.
Com a largada das Grandes Viagens e o avanço da Ciência da Astronomia, o conhecimento da posição e do movimento dos corpos celestes aprofundou-se. Os instrumentos, a observação sistemática e as teorias bem fundadas passaram à vanguarda das explicações dos fenômenos envolvendo asteróides, cometas e estrelas cadentes.
Embargoless, até hoje seguem em paralelo as explicações ou teorias não-científicas, bem mais interessantes e atraentes, para o aparecimento de movimentação de estrelas cadentes, cometas e meteoros, e os efeitos de uns e outros, atribuindo-lhes “sinais” ou forças extraordinárias. Só levando em conta o século XX, há vários exemplos dessas curiosas teorias.
No início do século, um asteróide explodiu a cerca de oito quilômetros acima da superfície do rio Tunguska, na Sibéria. Os astrônomos não têm a menor dúvida sobre a causa do fenômeno. Para eles, tratou-se de um asteróide, ou de um fragmento de cometa, de magnitude situada na casa das duas dezenas de metros, que “roçou” a superfície da Terra, e cuja explosão, ocorrida com a sua entrada na atmosfera, liberou uma energia na casa dos 20 megatons.
Já os místicos têm outra explicação para o “Evento de Tunguska”. Para eles, foi um aviso, vindo dos céus, para a seqüência de guerras, perseguições e derramamento de sangue que seguiu-se à explosão de uma bola de fogo. Explicam, assim, a onda de martírios e sofrimentos que se inicia com a Revolução Russa de 1917, progride com a guerra Polaco-Soviética e alastra-se por toda a Europa , África e parte da Ásia.
Um polonês de nome Babinski teria sido a pessoa a experimentar o “Evento Tunguska” mais de perto. Segundo afirma num manuscrito rudimentar, encontrado numa olaria semi-destruída no bairro de Barro Vermelho, em Cunha, SP, o fenômeno a que chama “Sinal de Tunguska” ajudou-o não só a antecipar o nascimento de seu filho, como também a driblar os confrontos ocorridos na fronteira russo-polonesa e aqueles deflagrados com o advento da Segunda Grande Guerra. O “Livro de Babinski” foi traduzido do Polonês para o Português e mais três idiomas, tornando-se uma obra “cult” entre aqueles que vêem mensagens escritas na abóbada celeste. Na Argentina, a edição de banca do “Livro de Babinski” inclui um simpático jogo de runas, cujas pedras são de plástico imitando osso.
Durante os anos 60 e até o final dos anos 70 – época de eventos de grandes repercussões, como a Revolução de Maio na França, a Guerra do Vietname e Woodstock, e os "anos de chumbo" da Ditadura Militar no Brasil – ocorreu uma profusão de livros que exploraram a explicação não-científica para os grandes conflitos e proclamavam uma solução pacífica ou mais justa para eles. Livros como “Eram os Deuses Astronautas”, de Erik Von Däniken e “The Teachings of Don Juan”, de Carlos Castañeda eram lidos avidamente pelos jovens. Outro desses livros era “O Despertar dos Mágicos”, de Louis Pauwels e Jacques Bergier, cuja leitura tornou-se obrigatória entre os jovens de classe média dos grandes centros urbanos do Brasil. Grupos de discussão juntavam-se no Rio e São Paulo para debater os “acasos” apontados pelos autores; e a revista Planeta tornou-se um guia dessa geração.
Não é de espantar, portanto, a grande credibilidade que teve o rumor – espalhado ao final da década de 70 – sobre a iminência do choque de um asteróide com a Terra, provocando um maremoto que cobriria a Cidade do Rio de Janeiro. Muitas pessoas acreditaram sinceramente na história e se dispuseram a rumar para a Região Serrana, levando toda a família e seus mais valiosos pertences para longe do cataclismo. Algumas destas pessoas chegaram mesmo a vender seus imóveis por qualquer preço, ou a abandoná-los, partindo em direção à acolhida de familiares nos estados vizinhos. Nada aconteceu na data prevista e tudo retornou à normalidade; mas as pessoas encantadas pela história continuaram a nela acreditar. E provavelmente muitas faleceram jurando que era só esperar para ver o fenômeno ocorrer na virada do século...
Um pouco de história da Astronomia Contemporânea pode situar o impacto de notíciais científicas sobre o imaginário das pessoas. Em 1980 foi criado um grupo chamado Spacewatch na Universidade do Arizona, USA. A finalidade do grupo é a de estudar asteróides e cometas, antecipando órbitas que podem trazer risco para a Terra. Os releases do grupo têm sido tomados ao pé da letra por alguns, embora se refiram a trajetórias futuras ou possíveis. Quando lidos de forma livre, geram grandes temores e inspiram filmes do gênero “catastrofista”, como “Deep Impact”, de 1998. Anúncios de órbitas detectadas pelo Spacewatch têm provocado tal tipo de alvoroço, como se deu em 1993 e 1997.
Em 1993 um NEO (“Near Earth Object”) chegou a 150.000 quilômetros da Terra – uma distância considerada “muito próxima” para os padrões astronômicos. A notícia provocou um alarme geral, principalmente em Mendoza, na Argentina, onde as chuvas de granizo, que destruíram grande parte das videiras, foram debitadas à proximidade funesta do asteróide. E muitos ainda acreditam que o encerramento do programa televisivo “Xou da Xuxa” na Argentina, a derrota por 5 a zero para a seleção da Colômbia, e a re-eleição de Carlos Menen fora anunciada por aquele NEO.
Em 1997 o NEO catalogado como 1997XF11, de cerca de 1 quilômetro de diâmetro, teve a órbita de encontro estimada pelo Spacewatch: em 2028 o NEO passaria a 48.000 quilômetros da Terra e qualquer desvio desta rota poderia colocá-lo em rumo de colisão com o planeta, provocando a destruição de cidades e maremotos de grande extensão. Parte da população de cidades do Sul do Brasil, que estaria num dos pontos possíveis de maior proximidade do curso do NEO, entrou em pânico e iniciou preparativos para deixar a região. Coincidentemente ou não, um estancieiro de Ouro Branco, aparentado de Józef Babinski – o mesmo Babinski do “Evento de Tunguska” –, chegou a liderar um grupo que buscava apoio para o êxodo. Felizmente, na mesma semana outro anúncio do Spacewatch esclareceu que novos cálculos haviam corrigido a órbita do NEO, que agora passaria a uma distância de mais de 1.000.000 de quilômetros da Terra.
Efetivamente, Ciência e Misticismo andarão sempre em paralelo. O que uma não explica ou cuja explicação é tomada sem o cuidado adequado, o outro multiplica. Recentemente o aquecimento global virou pauta na Imprensa em todo mundo e mereceu um filme capitaneado pelo ex-candidato Al Gore. Na onda desta popularidade, muitos oráculos começaram a predizer o fim do mundo para 2012, ano em que termina o Calendário Maia. Logo os Maias, matemáticos extraordinários, envolvidos nesta lenda...
Catastrofismo |
12AGO10
A meu irmão Z/, que resolveu partilhar comigo uma história, e ao meu irmão M/, que deverá ilustrá-la.
Por coincidência, na madrugada de amanhã, sexta-feira, 13 de agosto de 2010, poderá ser observada uma chuva de meteoros Perseidas (constelação de Perseus)a 01:00, na direção Norte-Nordeste. Vejamos o que acontece...
ResponderExcluirEstamos perto da dita madrugada; a bem dizer, acabamos de nela fincar o primeiro pé. Vou dormir agora com os meteoros e quase-catástrofes redemoinhando na cabeça, enquanto entro em sonhos sobre os milhões de estilhaços que arrodeiam a nossa existência severina: meteoros alguns, meteoritos outros; todos efêmeros. E potencialmente arrasadores.
ResponderExcluirBom dia, meu irmão querido.
Fantástico meu caro.
ResponderExcluirUm deleite para a mente.