Em seu livro, “Modernidade Líquida”(Jorge Zahar Editor, Rio, 2001, pp. 111 e 112) Zygmunt Bauman discute a questão da “civilidade” e cita Richard Sennett (“The Fall of Public Man”):
Bauman, a seguir, comenta:
“Segue-se esse objetivo, é claro, esperando reciprocidade. Proteger os outros contra a indevida sobrecarga, refreando-se de interagir com eles, só faz sentido se se espera generosidade semelhante dos outros. A civilidade, como a linguagem, não pode ser “privada”. Antes de se tornar arte individualmente aprendida e privadamente praticada, a civilidade deve ser uma característica da situação social. É o entorno humano que deve ser “civil”, a fim de que seus habitantes possam aprender as difíceis habilidades da civilidade.”
O tema, entretanto, que parece simples na teoria, é movediço na prática. É possível que se use a “máscara da civilidade” para sobrecarregar os outros com o peso de nossa própria individualidade (para usar a expressão de Sennett). Exatamente para isso. Aliás, é essa a atitude comum entre os esnobes ou entre aqueles que desejam marcar uma determinada posição, aqueles que apreciam ser vistos como uma “elite” entre a “ralé”. Essa falsa civilidade é, assim, o próprio anverso daquilo que se deseja por civil. É uma máscara excludente (“pesada”, portanto) que nega o outro, que fecha a porta da comunicação entre os indivíduos, que impõe a presença “privada”(usando a terminologia de Bauman) sobre a existência “pública” da vida social.
De outra parte – e aí falo por mim – é importante diferenciar a atitude esnobe da falsa civilidade da atitude irônica – que convida à polêmica e que é provocação. Esta é outra máscara que, embora utilize as tintas do esnobismo, dele faz pouco, já que seu objetivo específico é servir de verruma contra outras máscaras que, de comum acordo, tratam de excluir do mundo “privado” de seus usuários os demais indivíduos que buscam o convívio “civil”.
As Carlos Perique – 18fev04
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