sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Doença

O que é a doença? Acho que a doença vive entre dois mundos: o mundo da existência dela, em si; e o mundo da percepção dela. Esta é uma questão parecida com a que submete a existência de um objeto à sua percepção pelo olho do observador.

Posso dizer que estou bem, gozando de boa saúde, se não percebo a doença – quer ela exista em mim, ou não. Assim, posso passar meus dias despreocupadamente, mesmo que tenha uma doença, desde que não a perceba. Essa afirmação é válida para qualquer tipo de doença, tanto a enfermidade física como uma disfunção afetiva.

Concluo que nada há de “anormal” (portanto “doente”) em levar vida feliz, mesmo estando doente, na santa ignorância de meu mal.

De modo inverso, se me percebo doente, esteja ou não afetado por uma doença, estou doente. E estarei infeliz e preocupado comigo e, muito provavelmente, amedrontado, sem contar com o mal-estar que estarei sentindo.

A partir do momento que me percebo doente nasce uma outra questão: curar-me; a ação para curar-me. Entre o momento da percepção e o da ação existe um momento, menos ou mais longo, em que a mobilização para a cura me coloca em estado de tensão. Este hiato é ditado por razões objetivas mas também por estados subjetivos, como o receio de enfrentar a verdade e/o receio do processo de cura, o nojo de reconhecer o estigma, etc.

Penso que a doença é uma questão objetiva de sintomatologia e tratamento. Mas acho que a mais profunda origem da infelicidade está entre o momento de percepção e de ação. Arrisco que esta infelicidade é de intensidade semelhante à daquela causada pelo desengano ou pela perda irreparável. E é por isso que rezo menos pela cura e mais pelos aflitos. Na verdade, não peço que meu Pai Oxalá cure ninguém, mas que abrace docemente, que leve paz ao coração de todos os aflitos, inclusive eu mesmo.

19fev01

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