Moro na boca da praia. De modo que nudez, por si, não costuma me comover muito. De repente é defesa minha, não sei. A final, se eu não controlasse minha libido, se eu não fosse um tanto indiferente, ia ser um martírio aquilo de ficar sentado na areia vendo aquele monte de donas desfilar na minha cara as suas nádegas, peitos, coxas, sovacos, bocetas e demais bits&pieces de variada forma e valor. Sou mais um topógrafo. Fico olhando e observando como os membros superiores e inferiores conseguem se encaixar no tronco; como a obesidade contribui pro samba; como a magreza excessiva leva ao recalque dos ombros... essas coisas. E imagino esta ou aquela cona se abrindo, se fechando e se reposicionando a cada vez que a dona se mexe, senta, caminha, ou salta uma onda com aquele jeitinho de susto de água fria. No mais, sou quieto e blasé.
Mas mesmo o cara mais bem preparado teria que se render àquela dona loira que levantou-se atrás de mim e caminhou até a água, ajeitando o biquíni colorido, e deu um mergulhinho de assento. Ora bolas, isso é algo que se faça? Ta certo: a loira tinha um violão delgado e um rosto franco, era boa, e ostentava um colo com aquelas sardas... mas tirar-me da minha? Isso não! Virei a cara quase com desdém, remanejei meus óculos rayban e dei atenção a uma Lolita que dava um amasso no namoradinho a dois metros de distância de mim.
A memória daquela dona loira, entretanto, continuou a bater na porta da minha consciência. E, enquanto me preparava para o trabalho daquela noite, lembrei-me dela e escolhi uma camisa nova e ajeitei melhormente o nó da gravata. Contente com a imagem que vi refletida no espelho, sorri agradecido pela visão que tive, peguei o maço de cigarros, o lenço perfumado, a carteira, as chaves, e bati a porta atrás de mim, já pensando no repertório que iria percorrer.
Cheguei cedo ao bar do hotel. Não havia ninguém ainda e eu tinha uns 15-20 minutos pra dar uma volta antes de sentar ao piano e começar a fazer soar os primeiros acordes da noite. Fui, então, à beira da piscina, onde a luz do pôr-do-sol abria um belo espaço para o azul clarinho da água tratada. E lá estava ela de novo – a tal loira da praia. Dei um passo atrás justo no momento em que ela reparou na minha estranha presença: um cara todo becado aparecendo ali na orla da piscina, onde todo mundo fica mais pra pelado que pra pingüin. E – fantástico – trocamos um sorriso de reconhecimento. E acenei meio que mostrando o caminho do bar. Ela não teve reação. Ou melhor, virou-se de costas e começou a vestir-se para sair dali. Frustrado, fiz o caminho de volta.
E estava lá, bebericando o meu Nestea e batalhando algum sucesso, quando vi que a mulher misteriosa buscava um lugar à minha frente. Com ela, uma jovem que parecia ser sua filha – o que me deixou sem jeito. Tratei, assim, de concentrar-me no teclado, de onde arranquei a melodia do “Someone to Watch Over Me” e depois emendei no “Contigo Aprendi” ou algum outro sucesso do Manzareno ou algo do Silvio Rodrigues. Música da noite é assim: uma mistura de canções conhecidas, geralmente “standards”, com algumas canções do momento – foxes, bossas, boleros. O segredo está na mistura e em perceber o que o público da hora quer ouvir, seja para namorar, seja para curtir uma memória, ou apenas para se empifonar em paz. Também tem-se que estar preparado para atender a pedidos, e saber tocar, sorrindo como se estivesse no Nirvana, uma droga como “New York, New York”, enquanto relembra quanta coisa excepcional o Old Blue Eyes gravou na sua longa vida musical, e que o pessoal não pede porque é ignorante ou cretino ou tolo ou simplesmente é um gringo que não sabe nada do que se trata.
Eu mordia esses pensamentos quando exatamente nessa hora a dona tal vai até o piano e me pede “Posso cantar uma com você?”... e antes que eu titubeasse e fizesse um hummmm ela me diz... “Sabe ‘The Very Thought of You’?”... Caramba! Não é todo mundo que puxa essa! E eu, confiando no instinto, perguntei o tom e introduzi o tema. Devo dizer que foi uma das melhores interpretações daquela canção que ouvi. A dona, além de afinada, tinha o timbre certo, as pausas, os “slurs, drags & bendings” perfeitos pra música. No fim, aplaudi mais que todos e perguntei baixinho seu nome e se queria mandar outra. Ela disse-me “Lucia”... e, para minha alegria, pediu “Medo de Amar”. “Caramboles!”, novamente pensei. E lá fomos nós pelo labirinto da canção que mostrou mais uma apresentação irrepreensível do passarinho.
Quando terminamos, perguntei se Lucia queria cantar mais alguma coisa e ela disse-me que não, para tristeza minha e da casa, agora quase cheia. Voltou para a mesa e, mais um pouco, saiu com a acompanhante, acenando-me com a cabeça. Continuei assim meu calvário sozinho. Toquei de A a Z, toquei pedidos, música de aniversário para um casal de idosos, a famigerada “New York, New York” e não sei mas que. Mas, no mais, pude me dedicar a meus assuntos musicais a que tanto amo e me dedico, como uma série de blues e um pot-pourri de Johnny Alf. Três sets de 45 minutos, pausas, e estava tudo acabado. Não quis nem comer algo. O DJ colocou o som para funcionar, e fui saindo de fininho para evitar bis disso ou daquilo.
Cumprimentei o porteiro do hotel, tantas vezes meu guardião, e deixei-lhe uma caixinha na mão grande de boxeur. Atravessei em direção ao quiosque do outro lado da rua. A noite estava gentil e a brisa que soprava do mar dissipava meus pensamentos. Eis que vejo Lucia, de novo. Agora sozinha e sentada numa das mesas. Aproximei-me. Entretanto, antes que eu falasse qualquer coisa, ela levantou-se e começou a atravessar a rua de volta, em direção ao hotel. Fui atrás “comme un chien a la chasse”, meu irracional guiando-me.
Atravessamos o saguão do hotel e seguimos em direção à piscina. Na passagem escura empurrei Lucia contra a parede. Estava dominante e desafiadora, como se não desse a mínima para o meu descontrole; devolvia-me a indiferença que demonstrei na praia; tratava-me como a um menino sem jeito; quase ria de meu desconforto. Tive raiva, machuquei seus ombros e quase a perdi. Finalmente Lucia soltou-se, ajeitou o xale e seguiu de volta para os elevadores. Tomamos o mesmo carro. Desta vez controlei minha gana de agarra-la ali mesmo. Saltamos num andar qualquer e a segui até seu quarto. Não precisava explicar-me, mas mesmo assim disse-me, ao abrir a porta, “Minha filha saiu e não volta hoje”. Foi a senha.
Antes mesmo de acendermos as luzes agarrei Lucia de novo. Desta vez impondo-me como macho, como vampiro, que é convidado a passar a adentrar o âmago e passar a noite. Empurrei-a enquanto a abraçava. Ela começou a beijar-me docemente o pescoço, tomou minhas mãos e beijou-as também, colocou-as sobre o colo, deu a volta e ficou de costas, agarrou minhas mãos de novo e fez com que eu as enchesse com os seios, abraçando-a por detrás. E nos esfregamos bravamente por alguns minutos em que sentimos um ao outro com cada polegada quadrada de nossas peles.
E aí, nova surpresa: Lucia ajoelha-se diante de mim, como uma submissa faria. Abre-me as calças e, com destreza, consegue ter nas mãos, rapidamente, meu pau absolutamente duro. E, olhando-me nos olhos, começa a chupar-me, primeiro com técnica e habilidade, depois com sofreguidão, como corresponde. Sinto-me um dom, até que percebo que quem domina é Lucia; quem me controla é Lucia; quem está me levando pra fora do mundo é Lucia. E tenho a iniciativa de virar o jogo.
Afasto Lucia. Levanto-a e a jogo sobre a cama, de costas. A saia se abre e vejo as coxas perfeitas. E, no meio delas, guardada pela calcinha vermelha, a boceta mimada. Olho, maravilhado, e Lucia desfruta, ainda, de seu poder. Atiro-me sobre ela; ou melhor, tropeço nas calças que me vão pelos joelhos e caio sobre ela. Lucia ri, tem pena do meu desajeito. Tenho raiva, mas também começo a rir; desvencilho-me das malditas calças e, com elas, das malditas cuecas. Vingo-me mordendo-lhe os ombros, o pecoço. Colo o nariz no entre-seios e aspiro a rota de perfumes exóticos que vai do trás das orelhas até o ventre. Finalmente comando meu desejo e minha ação.
Roço os lábios no monte de Vênus de Lucia, por cima das calcinhas; mordo os lábios e as arranco. Uso de tudo que aprendi nos anos de praia e de vagabundagem; lambo, esfrego, chupo e novamente mordo; e alterno tudo para um segundo movimento. É hora de Lucia perder o controle. Ela me usa, se abre, aponta e desfruta; mas lentamente se exaspera, tenta afastar o meu rosto, se debate, tenta levantar-se nos cotovelos, soca-me a cabeça, mas finalmente se entrega. E goza abundantemente gritando nomes e desejando meu sangue. Estertora e, por fim, desmaia. E minha cara lambuzada ostenta o sorriso largo da vitória. Eu domino, tyranossaurus rex!
E é sobre esta Lucia submetida e desfalecida que finco-me com força e com vontade. No começo, ela sequer se mexe e eu mais lhe arremeto. Pouco a pouco ela inicia a cadência até que sinto que a cada estocada que dou é ela quem me come. A disputa, então, fica violenta: mordidas, arranhões, xingamentos. Mas não desencaixamos, mesmo quando rolamos da cama e vamos parar no chão. E assim continuamos até que, simultaneamente, abrimos a guarda e nos entregamos e gozamos! E aí ouço tantos temas, tantas orquestras, tantos naipes de cordas e de metais, tanta balbúrdia que acredito, por um momento, que enlouqueço; um relâmpago de consciência me faz acreditar que entendo porque Beethoven ficara surdo. Então vou me acalmando e finalmente, olhando para a magnífica mulher ali do meu lado, que acalma-se comigo, deito-me de costas nos lençóis engrolados e, comovido, agradeço a Deus.
Para LS, de um admirador ardente e agradecido
[16set09]