segunda-feira, 7 de junho de 2010

A Foda Acontece no Começo



Acordei com a luz do dia machucando meus olhos. Fui recobrando a consciência aos poucos. Sei que estava feliz. Porque me recordo que sorri. E aí percorri os acontecimentos do dia anterior. E logo me dei conta da reconfortante presença de Dilma a meu lado. Não resisti e dei-lhe um tapa carinhoso nas nádegas. Eram, sem qualquer dúvida, muito firmes.


Dilma acordou de vez e sorriu para mim... o lençol escorregou e vi os seios generosos e tão bonitos... Voltei-me e enfiei o nariz no colo de minha amiga. Então me dei conta, ao mesmo tempo em que sentia seu perfume, de que estava apaixonado.


Ela parece que ouviu meus pensamentos. E percebeu o peso específico deles. Soltou-se e me disse: "não quero essa densidade toda entre nós. ou melhor, quero enlevecer..." E saltou da cama.


Dilma era assim desde guria, quando nos conhecemos numa baladinha em Curitiba. Ninguém conseguia prendê-la por muito tempo. Entendi isso e passei a tratá-la com a eventualidade necessária. Fui dissimulado às vezes, cínico outras. O importante é que conseguia estar na sua companhia muito mais que qualquer outro sujeito que se aventurasse a tê-la.


Continuamos amigos e formamos um par temporário durante todo o tempo da faculdade. Era bom vê-la e estarmos juntos. Porque sabia que nessas ocasiões a tinha inteira. “Quality time” era o termo que iria usar anos depois, para definir o tempo curto, mas pleno, que passo com meus filhos.


Durante anos não vi Dilma. Não esqueci de telefonar no seu aniversário, nem no Natal. Mas não nos encontramos. Sabia dela por amizades comuns, que eram evasivas, já que nossa amiga não se confessava tolamente com qualquer pessoa.


O tempo passou e deu-me umas chapuletadas. Algumas bastante fortes. Creio que sofri mais quando fui decepcionado – decepções pequenas fazem mais estrago que rejeições. Verdade é que fui levando, casando, descasando, tendo filhos, viajando. Me firmei como fotógrafo, primeiro numa incorporadora de imóveis, depois numa revista feminina e, finalmente como freela. Quer dizer, fui do mais técnico e chato até o que me dá mais gosto.


Como freela conheci histórias e mulheres interessantes. Droguei-me, bebi, e me safei dessa. Hoje trabalho e trepo de cara limpa. E evito as donas complicadas ou que se droguem à toa. Fiz meu nome e ganhei uma grana que me deixa confortável, mas não mais próximo dos meus filhos.


Aí, ontem, por acaso, encontrei Dilma na casa de uma modelo minha amiga. Foi uma alegria! Conversamos sobre tudo; sobre o que havia ocorrido em nossas vidas, sobre nossos projetos; rimos das idéias que se foram e nos absorvemos em nossos novos paradigmas.


Acabamos em minha casa, onde bebemos e conversamos um pouco mais. Falei de meus filhos e Dilma foi extremamente receptiva, como se os conhecesse. Deu-me conselhos e tranqüilizou meu coração. Mostrou que me conhecia mais do que qualquer outra mulher me conhecera, inclusive minha mãe. E, subitamente, me dei conta de que Dilma era a companheira que eu buscara por tanto tempo.


Com o coração repleto de contentamento abracei-a e fui abraçado de volta. Nos amamos ali mesmo, no sofá. Carinhosamente, ternamente, os dois corpos e seus mistérios completamente conhecidos. Nos santificamos e, quando cansamos, nos mudamos para a cama, onde dormimos em paz.


E agora isso. Esse tapa gelado na barriga. Essa burrice, essa escorregada catastrófica de ficar aos pés de Dilma, como um guri apaixonado. Ah, caramba, tudo que eu havia aprendido foi-se com essa vida de carências e tropeços, pensei eu. Dilma novamente percebeu o peso da circunstância mas dessa vez acalmou-me. Com imensa ternura segurou meu rosto entre as mãos, olhou-me nos olhos, e disse: “... amanhã é domingo. Vamos nos ver de novo?”


Para minha prima, D/, cujo amor pela liberdade supera qualquer outro.

Um comentário:

  1. Eu que nunca parto, sinto inveja boa da Dilma, que nunca permanece e, paradoxalmente, sempre está.

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