quinta-feira, 3 de junho de 2010

Breve História de um Amor Eterno


Faz bastante tempo que tenho a impressão de que certos relacionamentos são eternos. Esta impressão tem-se robustecido na medida em que conheci muitas pessoas na internet que ficaram sendo importantes para mim, mas que deixaram de freqüentar meu dia-a-dia por algum motivo. O conto a seguir propõe a reflexão sobre este tema.

Encontraram-se três vezes, ambos casados. Da primeira vez, nunca haviam se visto. Ele surpreendeu-se com a juventude dela ao identificá-la no hall do hotel. Ela sentou-se em frente a ele e pegou suas máos nas dela. Abraçaram-se repetidas vezes. Já no quarto, ela pediu que ele fechasse os olhos... levantou a blusa e deitou sobre seu peito. Gozou sobre ele, ambos vestidos.

Tiveram algum tempo para conversar e ele perguntou de onde ela era. Ela falou-lhe do “Quatrilho”. Ele disse como era bela a região. E ela concordou que era muito bela, mas também triste.

No espaço de tempo que seguiu-se os dois sofreram muito. Ele polígamo e ela virtuosa. Ele a via como uma árvore solitária, como um marco de pedra em seu caminho. Queria ajoelhar-se e tornar-se outro homem. Uma espécie de Galahad. Ela ria com isso tudo. O único riso que às vezes dava.

Da segunda vez, ele pode tocá-la e sentí-la úmida e pronta. Usavam boxer shorts e ela não permitiu que a penetrasse. Ao invés disso contaram suas vidas e choraram juntos. Depois saíram. Caminharam e foram parar num café. Antes disso ela dançou uma salsita breve e invisível na porta de uma loja de bugingangas.

Sentaram-se e ficaram olhando os barcos que atravessavam a baía. A mesa era coberta por uma toalha de papel. Havia lápis para desenho. Ele desenhou a mão dela, contornando os dedos. Ela fez o mesmo com a mão dele, sobre o desenho da mão dela. Ficaram ali, de mãos dadas, até chegar a hora. Ela dobrou cuidadosamente o papel da mesa e saíram. Mais alguns passos e estavam despedindo-se.

Depois ela não o quis mais. Separara-se e juntara-se. Ficou doente. Seriamente doente. E ele sempre atrás, fazendo promessas e dizendo o quanto era um bom homem. Seguiram dilacerados, mas aparentemente em paz. Outras pessoas surgiram, aqui e lá. E iam se falando aos tropeços.

Da terceira e última vez ela foi visitá-lo num hotel romântico, escolhido a propósito. Desta vez ela chupou-o. Voraz e perfeitamente. Duas vezes. Ele desejava, como sempre desejou, amá-la. Ela não quis ou não pôde. Jantaram e ela foi-se. No dia seguinte, antes de partir, ele telefonou e perguntou por que ela não ficara. Ela respondeu que tinha vindo preparada, mas que ele não a convidara.

Dali por diante foram se falando quando podiam. Ela engravidou e ele também. Trocaram palavrinhas sobre os filhos, sempre amorosos um com o outro. Até que as mensagens dele não foram mais respondidas. E as coisas estão paradas assim por mais de ano. Só que ele continua venerando as árvores solitárias pensando nela; e ela matém guardada a toalha de papel.

Comentários: Acho que tenho essa preferência pelo tema dos encontros e despedidas. Isso ficou mais patente depois de tornar-me freqüentador da Internet. É óbvio que o fugaz também habita a vida quotidiana; mas ele é mais agudo nas relações que se iniciam como virtuais.

Também percebo que cruzamos uns com os outros a todo momento. E que certos encontros, mesmo fugazes (na experiência dita "real", ou mesmo na experiência chamada "virtual") nos fazem eternos habitantes na vida uns dos outros. E escrevo sobre isso, também.

No fundo, creio que tenho sempre essa esperança na eternidade. Se não serve para algo mais, pelo menos ela sublima a dor de perder contato com alguém a quem estimo.

De qualquer maneira, penso que: (a) a minha experiência e as minhas emoções não diferem muito do que passam aqueles que freqüentam estas paragens; e (b) os enredos são o que são, destinados a tocar-nos de alguma forma, seja na plenitude (final feliz ou final esperado) ou no vazio.

Numa historinha que dediquei à V/ a tão esperada trepada também não se consuma (por outros motivos, é claro). Às vezes sinto que escrever sobre a trepada que rola não é lá muito interessante (a não ser quando vamos ao depois e vemos que o vazio do gozo pode ser o início da separação ou de outras histórias pra contar)

A primeira parte [sobre o primeiro momento do primeiro encontro].— gosto muito dela; foi construída como uma das chaves das razões da despedida.

Acho que as histórias de amor eterno ficam em suspenso porque temos essa percepção linear dos acontecimentos. Isto é: se o amor se consuma, ele se consome - e acaba. Já se ele fica em suspenso, durará para sempre. É uma leitura.

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