sexta-feira, 4 de junho de 2010

Magrela -- Uma Seção em Botafogo



A Internet é uma sanfona infernal: nos aproxima e, ao mesmo tempo em que favorece o mais íntimo contato virtual, nos confronta com distâncias geográficas e inviabilidades do mundo real. Entretanto, às vezes a pororoca de emoções nos surpreende. Isto ocorre quando alguém transpõe o portal e torna real o virtual. Foi o que nos aconteceu, a mim e a uma amiga nossa aqui da comunidade, a quem chamarei de Magrela.

Magrela é das raras pessoas em nossa comuna que não utiliza um fake. De modo que eu sabia com quem falava desde a primeira vez que trocamos palavras. O mesmo não ocorre comigo – Pero Vaas é um fake, como todos sabem. Mesmo assim, em posições desiguais, Magrela topou envolver-se comigo. E eu gostei muito do seu estilo conciso e da precisão com que respondia às minhas vagas (vadias) idéias. E de surpresa em surpresa vi-me buscando-a nos tópicos e no MSN.

Pois bem, há tempos Magrela e eu vínhamos testando nosso ritmo e o encaixe de nossas fantasias. Não é necessário explicar como esses eventos se sucedem na rede. Numa bela tarde, ou manhã, ou noite, você é pego pelo pé por uma frase que bate uma bola perfeita com a sua frase. E isso transforma-se em horas de conversa em que acabamos sabendo mais um do outro que qualquer membro das nossas famílias. É mágico!

E de provocação em provocação vamos criando climas e fazer um SV é inexorável. E de SV em SV percebemos que não fazemos um arremedo do SR, mas adentramos essa modalidade nova em que são exigidas habilidades específicas que, a final, geram prazeres invulgares. Magrela e eu não fomos exceção à regra. Nem queríamos sê-lo. Queríamos mesmo era provar do fruto das nossas palavras e imagens, desfrutando um do outro e de nós mesmos, usando nosso poder para gerar mais poder.

Vai que dia desses, numa de nossas conversas, Magrela surpreendeu-me com a seguinte declaração: “Quer se encontrar comigo?”. Titubeei. Nunca havíamos sequer trocado palavras pelo telefone. Nosso SV era mudo, só feito de imagens e palavras digitadas. Pensei, e teclei: “Como seria isso?”. “Bem..”, disse-me Magrela, “... estou indo ao Rio numa espécie de viagem sentimental... podemos nos encontrar aí... será no fim-de-semana que vem...”. Eu disse “Ótimo!”. E Magrela finalizou o tópico mandando-me preparar meus instrumentos.

Tenho esse fetiche de cortar. Cortar a pele, inscrevendo palavras ou números ou códigos alfanuméricos, ou apenas deixando um hieróglifo ou sinal cabalístico. Faço com todo cuidado e esmero. Há tempos aprendi a cortar com um mínimo de dor e sangue, fazendo um trabalho perfeito na carne viva. Magrela havia percebido essa minha paixão desde o início de nossas conversas e, como sub atenta que é, estimulou minha fantasia e fez-me realmente sentir que a marcava. De modo que o fim-de-semana seguinte prometia – no nosso próximo encontro no MSN combinamos como faríamos. Magrela ficaria na casa de uma amiga de infância, em Botafogo, que sabia do nosso envolvimento. E eu iria vê-la lá.

Minha excitação à espera do dia “D” foi enorme. Fiquei em quarentena, febril, imaginando cenas e diálogos. Essa exposição súbita ao real sempre me pega de jeito. “Como ela me verá?”, “Será que vamos ter o mesmo entrosamento que no virtual?”, “Com que roupa eu vou?”. E eu ria enquanto selecionava minhas faquinhas de estimação – “Esta sim, esta não, esta também... hummm... preciso dar um trato nessa aqui... onde está o povidine?... cadê a gaze e o esparadrapo cirúrgico?”.

Até que chegou o grande dia do encontro. Magrela ligou-me no celular e eu ouvi, pela primeira vez, a sua voz. Gostei. Tinha alma, profundidade e tom. Fiquei excitado só de ouvi-la. Ela deu-me o endereço e marcamos a hora. Disse-me que não me preocupasse muito e que tudo estaria bem. Ah, e que eu não esquecesse de trazer os meus brinquedos.

O dia estava lindo, com o sol fulgurante das 14:00 horas deixando-me alegre e otimista. O endereço que Magrela me deu era o de um sobrado na Rua Dona Mariana. Toquei a campainha e veio atender-me uma jovem muito alva que, em silêncio, fez-me entrar e, com gestos comedidos e elegantes, indicou-me por onde deveria dirigir-me. Notei, então, algumas marcas conhecidas na nuca e nos braços da jovem, mas nada disse e a segui.

Subimos uma escada de madeira e entramos num living, onde a jovem deixou-me. Os móveis e a decoração da casa eram pesados, típicos da arquitetura da região. A luminosidade filtrada pelas janelas era muito pouca, já que as cortinas de chintz e adamascado estavam fechadas. De modo que tive que acostumar-me com a iluminação que provinha de algumas lâmpadas de cor amarelada, espalhadas habilidosamente pelo aposento. Os móveis, logo vi, eram de imbuia e peroba-do-campo e as muitas almofadas não escondiam, aqui e ali, a palhinha de assentos e encostos. Nas paredes, quadros de época, alguns deles retratando paisagens do Rio (reconheci um Castagneto original!) e outros belas mulheres dos 1900’s. Os objetos e demais artigos de decoração refletiam o gosto refinado e a riqueza antiga da proprietária.

E estava eu examinando a lombada encadernada dos livros numa pequena estante quando me aparece a Magrela. Que emoção! Apertei-a com toda a força entre os braços, praticamente arrancando-a do chão. Creio que todos sabem como é fantástico o momento em que se revela, na vida real, a mesma empatia do imaginário virtual. Magrela em pessoa era ainda melhor que a Magrela minha amiga virtual. Festejou o encontro com a mesma alegria que eu demonstrava. Atropelávamos um ao outro com mais abraços e beijos e perguntas e respostas.

Até que, saciados os primeiros impulsos, Magrela afastou-se de mim e, com olhos baixos, beijou-me as mãos dizendo-me “Minha amiga quer conhecer o senhor. Pode ser?”. Percebi imediatamente a encarnação do papel de sub e respondi distante, como dom, “Sim, desejo conhecê-la”.

Mal tinha acabado de assentir e entrou na sala a amiga de Magrela. Discretamente perfumada e maquiada, aproximou-se de mim e, entendendo-me a mão bem cuidada, apresentou-se. Em poucas palavras, deu-me as boas vindas, disse-me seu nome paisano e atalhou. “Mas sou Isis, Rainha Isis”. Isis era, sem dúvida, uma domme – morena e impositiva, tinha a beleza exótica e o físico da atriz Kestie Morassi, do seriado “Satisfaction”; a voz polida e o tom moderado não escondiam a firmeza própria de quem comanda. Sentamos e contou-me brevemente a história de sua amizade com Magrela, que ajoelhou-se a meu lado. Haviam morado na mesma rua e tinham sido vizinhas até que Magrela mudou-se para Belo Horizonte. Mesmo assim, mantiveram contato e agora tinham a oportunidade de rever-se durante a breve viagem de minha amiga ao Rio. Não tivera que insistir muito para que Magrela aceitasse vir hospedar-se em sua casa.

A jovem alva voltou a nós com uma jarra e copos, equidistantemente distribuídos numa bandeja de prata inglesa. “Suco de tamarindo, Pero?”, ofereceu-me a Rainha. “Muito obrigado...”, respondi, e fui servido por Magrela. “Muito condizente com essa tarde de sol...”, aprovei, depois de prová-lo. A Rainha bebeu a pequenos goles, ereta, sem mover-se mais que o necessário. De vez em quando dirigia o olhar arguto para Magrela, como para mantê-la atenta e expectante. Finalmente levantou-se e nos disse “Não querem começar?”. Ao que Magrela tocou-me o joelho e perguntou-me se a Rainha poderia nos observar durante nossa seção. Curioso, assenti. E a Rainha nos levou até um quarto, seguida pela jovem alva.

A cama era no centro do aposento e permitia toda a sorte de utilização dos brinquedos de S&M. Pedi que primeiro nos deixassem a sós, Magrela e eu, e fomos atendidos. Assim que nos certificamos que estávamos sozinhos, nos abraçamos de novo, agora com desejo e sofreguidão. Sentir o corpo de Magrela contra o meu me doeu estranhamente, mas também deu-me um grande prazer. Que responsabilidade! Talvez meu irmão Carlos, com toda aquela verve de moleque, pudesse sentir-se à vontade aqui. Exatamente ele que vivia dependurado nos bicos dos seios de Magrela...

Depois de alguns minutos de exaltada pegação, Magrela novamente separou-se de mim e, de novo com os olhos baixos, começou a despir-se até ficou apenas de calcinhas. Calcinhas brancas, como sempre lhe pedi, que contrastavam com sua pele morena. Ver minha amiga ali, despida e submissa, doeu meu coração. Levantei-lhe o rosto pelo queixo, docemente, e beijei-lhe a boca desejada. Abracei-a de novo, notando a bela tatoo na omoplata esquerda. Senti os seios contra meu peito ainda vestido e o monte de Vênus contra meu membro – que endureceu. “Doce e querida Magrela”, murmurei. E percebi lágrimas no seu rosto. Despi-me e vesti minha túnica branca sobre o corpo nu. Com Magrela de novo a meus pés, aguardei a volta da anfitriã.

Não demorou muito e a Rainha Isis e a jovem alva voltaram ao quarto, já paramentadas para a seção. Vestida numa roupa de couro preto, os seios protendidos por um corpete justo, a Rainha apontou a jovem: “Esta é Justine, minha escrava.” De olhos baixos como Magrela, Justine cumprimentou-me com a cabeça. Pude ver como ficara perfeitamente bela em sua túnica justa, que mostrava o colo dos seios, os ombros, os braços e as coxas... todos marcados pelos castigos com que sua dona a adestrava. “Muito bem...” disse eu, “... comecemos”.

A meu comando, Magrela foi levada para a cama, deitada de costas e devidamente atada. Tudo dentro da ritualística que faz do BDSM uma prática teatral e gótica. É preciso treinamento contínuo para saber os passos, a etiqueta, os sinais. Tudo deve passar-se fluidamente, com a métrica adequada, de forma a integrar todos os elementos coadjuvantes e privilegiar o foco da cena.

Pedi que iluminassem melhor o corpo de Magrela, particularmente a barriga magrinha. E, enquanto preparavam os últimos detalhes, vesti as luvas e pedi que a Rainha me indicasse um local onde poderia terminar de esterilizar os instrumentos. A uma ordem da anfitriã, Justine levou-me a um canto do quarto, onde havia uma cômoda antiga, com tampo de mármore e uma pia. Lá, abri o vasilhame onde havia deixado as pequenas facas e os bisturis num banho de Gerdex, iniciado antes de sair de casa. Esgotei a substância, enxagüei demoradamente as peças e banhei-as, por precaução, numa solução de ácido peracético. Antes de terminar, já senti o endurecimento extraordinário do meu membro e deduzi que algo mais havia disfarçado no agridoce do suco de tamarindo servido por Justine.

Quando voltei à cena, lá estava minha querida Magrela, devidamente atada. À cabeceira, a Rainha Isis dizia-lhe algumas palavras enquanto lhe acariciava o rosto, os ombros e os seios. Justine, ao pé da cama e de olhos baixos, aguardava ordens. O momento era muito especial e, fosse eu Mathias, já estaria imaginando o quadro que pintaria.

Como sempre digo, não há mulher magra de boceta feia. No caso de Magrela, a boceta é perfeita. Certifiquei-me dessa verdade cristalina ao olhar detidamente para o seu monte de Vênus, exposto sob a calcinha branca. O formato, o cheio e o vinco, “ah, meu Deus...”, suspirei, meu olhar focando no volume branco que contrastava com a pele morena. Meus olhos pregados ali; e eu congelado na cena. Até que me dei conta de que Magrela e a Rainha Isis aguardavam impacientes os acontecimentos. “Que espécie de dom molenga sou eu?”, pensei e apressei-me.

Prossegui a passos rápidos até a cama, abri a maleta e fui organizando os instrumentos e os frascos, lado a lado, na mesinha auxiliar. A domme, aliviada, voltou-se para os seios de Magrela, agora puxando-lhes os bicos sem dó. Percebi, então, a corrente alternada entre a confiança e o medo da submissa. Podia pensar com ela, sentir a adrenalina correndo, sentir a espera do toque. Pensar nos sinais, no dito e no não dito. Neste momento Justine levantou a cabeça e olhou diretamente para a cena. E levou um repelão na coleira empunhada pela sua dona, que mostrou-lhe o rebenque.

Aproveitei a pausa das atenções para iniciar os trabalhos. Primeiro passei o povidine no ventre de Magrela, assegurando-me da assepsia do local. Depois desenhei, com a mão firme, as letras “P” e “V”, caligrafando-as em maiúsculas cursivas ao estilo de Arrighi. Saciei a curiosidade de Magrela, mostrando-lhe o desenho através de um espelho. Mostrei, em seguida, a pequena faca que usaria para entalhar as letras. Mais uma vez senti a corrente alternada que percorria a mente e o corpo de Magrela. E a Rainha, reconhecendo a perfeição do momento, vergastou duas vezes o colo de Justine.

Os gemidos de Justine e a ansiedade de Magrela me animaram. Com zelo, passei a cortar a pele e a, alternadamente, limpar o sangue que manchava o entalhe. Magrela gemia surdamente, enquanto mostrava sua satisfação e me excitava com seu medo. Já havia começado a cortar a segunda letra quando novamente senti os efeitos da bebida servida por Justine. O sangue me pulsava mais forte na jugular, latejava nas minhas têmporas, e endurecia meu membro. Contive-me, entretanto, para não atrapalhar meu trabalho. E terminei a contento a inscrição. Limpei o ventre de Magrela – minha posse – com carinho e dedicação profissional. E protegi a área com esparadrapo cirúrgico. Estava feito!

A esta altura minha pressão sangüínea e o calor estavam insuportáveis. A Rainha percebeu como me sentia e, soltando a coleira de Justine, ordenou que me servisse.

A proximidade da escrava só fez tornar mais agudas minhas sensações. De modo que, quando se ofereceu para tirar-me a túnica e as luvas, eu já estava começando a fazê-lo. Agora nu, pude ver meu membro na mão de Justine, que o movimentava suavemente. Estava enorme, muito maior do que eu poderia imaginar. E, duro como pedra, parecia ter vida própria, apontando rígido para a boceta de Magrela.

Justine, então, com uma tesoura, aplicou dois cortes laterais à calcinha de Magrela, despindo-a também. E, puxando-me pelo meu membro, com ele iniciou a penetração da boceta de Magrela. Ao sentir-me bem encaixado, dei um tapa agradecido nas nádegas de Justine, que voltou constrangida para perto de sua dona.

Fui entrando em Magrela vagarosamente, observando a sua respiração refletida nos movimentos da barriga e da pélvis. Meu membro era um braço entrando numa pequena fenda e eu ia forçando a entrada com grande prazer. Até que resolvi que era a hora e entrei de vez, ao que a boceta de Magrela respondeu, engolindo-me com dificuldade, mas também com prazer.

Tendo entrado completamente, comecei a mexer os quadris contra os quadris de Magrela que, atada, pouco podia fazer. Fui entrando e saindo, entrando e saindo, vendo a bela nudez de Magrela, a incisão coberta e os bicos dos seios duros, sendo maltratados pela Rainha.

Enquanto isto, Justine premiava a visão daquele quadro com sua alva nudez, totalmente submissa à sua dona, pedindo sua atenção, implorando seu castigo, beijando-lhe as mãos e o rebenque, presa à coleira que a mantinha disciplinada. O prazer da domme estava em não ceder; assim que não se deixava beijar ou acariciar pela escrava. Com tudo isso, eu sabia que estava molhada, que em suas veias pulsava o sangue como em minhas veias ele também pulsava. Seu prazer estava no controle e não se aliviaria ali, diante de nós; mas solitariamente, em algum aposento, em alguma cama daquela casa...

Tomado por pensamentos e atos, fui metendo em Magrela, aumentando o paroxismo que a bebida ajudara a criar e, ao mesmo tempo, reter. Percebi que estava em priapismo, que não conseguiria gozar, e isso produziu-me uma angústia intensa – nenhum movimento que eu fazia conseguia levar-me ao êxtase. E Magrela, pelo que eu via, estava na mesma encruzilhada irresolvida – não gozava, apenas fazia os pequenos movimentos que as ataduras lhe permitiam, buscando ajudar-se e ajudar-me a encontrar o clímax.

Ficamos nisso um doloroso tempo. Nem mesmo a excitação produzida pela diversão da Rainha Isis com Justine conseguia levar-me ao clímax. Comecei a implorar para acabar e a sentir a mesma angústia que Magrela – algo estranho para um dom. Até que, com uma mistura incrível de prazer e dor, Magrela e eu, molhados de suor como num banho turco, gozamos aos gritos e ao choro.

Aos poucos, retirei-me de Magrela. Esfolado e exausto, tive que segurar-me à beira da cama para não cair no chão. Ajoelhei-me, então, e beijei a sua belíssima boceta e fiquei ali, por algum tempo, com o rosto colado no seu ventre, sentindo o gosto de Magrela na boca, misturado ao retrogosto do afrodisíaco.

Quando levantei-me, vi o olhar agradecido de minha amiga. À cabeceira da cama, Justine, castigada, soluçava de esforço e prazer. E a Rainha Isis, de pé e soberana, fitava-me esperando o agradecimento, que lhe mandei com um aceno e um sorriso. Soltando as amarras de minha amiga, atirei-me, então, sobre ela, beijando seu rosto e sua boca, o ombro e a tatuagem, os bicos dos seios, descendo, finalmente, para a barriga, o ventre e, novamente, a boceta.

Durante todo esse balé, Magrela tratava de segurar meu rosto carinhosamente entre as mãos. Éramos amigos. Mais que isso, éramos amantes confirmados pelo ritual. “Magrela, m’amie”, susurrei. “Mon chéri”, disse-me ela. E enternecidos e agradecidos, sorrimos um para o outro. A domme e sua escrava retiraram-se, silenciosamente.

Trocamos nossas roupas, Magrela e eu, ali mesmo. Logo depois, retornaram a Rainha Isis e Justine – não mais domme e escrava, mas anfitriã e governanta. Agora todos havíamos voltado à nossa catadura paisana. Acondicionei meus instrumentos na maleta e fechei-a. Encerrados os trabalhos, nos dirigimos ao living já conhecido. Tudo aquilo, na decoração da sala, que havia sido objeto de minha curiosidade e apreciação, tornara-se parte da minha visão de mundo. Um sentimento profundo de gratidão me tomou. E, agradecido, beijei as mãos da anfitriã, tendo o cuidado de manter a etiqueta – nossa parceria limitava-se ao que havia ocorrido; em nenhum momento nossa filiação permitira ou permitiria algo diverso. Queria, também, agradecer à jovem alva; mas também em razão da etiqueta, deixei apenas que me beijasse a mão direita, que estendi fidalgamente. Ela, então, retirou-se, para voltar logo depois com a conhecida bandeja, mas agora com taças de um néctar diferente.

Quando ia agradecer que não, a anfitriã, divertida, disse-me que se tratava apenas de um energético de meia potência, destinado a nos recompor perfeitamente. Brindamos, então, e bebemos. Era realmente uma bebida sã. E muito saborosa, assim como um OPorto de rara qualidade. Trocamos algumas palavras e silenciamos. Entendi que era chegada a hora de educadamente ir-me.

A anfitriã, sua assistente e Magrela levaram-me à saída pelos corredores do sobrado. Antes de transpor o umbral, despedi-me da amiga de infância de Magrela, agradecendo-lhe, com palavras, a hospitalidade e elogiando-lhe a casa. Em seguida, acenei com a cabeça para a jovem alva, que deu um passo atrás e manteve os olhos baixos, como devido, mesmo estando paisana. Já à porta da rua abracei minha adorada amiga, apertando-lhe as poucas carnes e os ossos. Quando nos afastamos disse-lhe “Te adoro, Magrela...”, ao que ela voltou-me “Também te adoro, Baixinho...”. Chateado, quis responder, mas a porta já se havia fechado...

Para Magrela, esperando uma nova seção.

[31ago09]

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